27 de set. de 2013

nossas melodias.

dias atrás recebi a visita de uma colega de trabalho do moisa.
autran estava em pleno salto de desenvolvimento. juntando um dia de soneca ruim e horário crítico. enfim, ele não tava aquele bebê lindo e encantador que costuma ser.
entre choros e resmungos, a visita perguntou a ele: "vamos cantar? que música sua mãe anda te ensinando?".

eu sorri. e só.
não ia contar a verdade.

me sinto meio ridícula cantando música de criança.
eu nem sei música de criança. nunca ensinei a luana a cantar "meu pintinho amarelinho". no entanto, achei a coisa mais linda do mundo quando ela voltou da escola um dia cantando a música da boneca de lata (eu não conhecia) naquele bebenês de 4 anos, cheio de errinhos de dicção (por exemplo, ao invés de falar "desamassa", ela falava "samassa" ÓUN).
ela tinha seus cds de músicas infantis, ouvia, dançava, etc.
mas eu não ensinei nada quando bebê. tampouco cantei pra ela na gravidez. sério, isso me deixa constrangida.

desde que decidi mudar minha forma de maternagem com o autran, eu vi o quanto é importante pro bebê ouvir a voz da mãe. lhe dá segurança, estímulo, acalma.
resolvi fazer um esforço.

durante o banho, eu canto sempre a mesma musiquinha pra ele. é relaxante até pra mim.
debaixo do chuveiro quentinho, pele com pele, ele encosta a cabecinha no meu peito e eu deixo a água cair nas suas costas e fico cantarolando. cansei de o ver dormir assim.
o lance é que é uma música de adulto. em inglês.
mas tem uma melodia linda:



quando estou com ele no sling, pela casa, e ele ainda se mantém inquieto, eu começo a cantar também sempre a mesma música. diferente da do banho. porque aquela é música de banho.
a música de sling tambem é de adulto. em inglês.
e também tem uma melodia de matar:



outro dia, o moisa estava fazendo ele dormir e o ouvi cantarolando uma terceira música, que pode muito bem virar a música de dormir.
de adulto.
em inglês.
melodia... *suspiro*



ou seja, não seria fácil explicar que estou ensinando uma música extremamente depressiva pro meu filho enquanto toma banho, outra sobre um crime passional enquanto o embalo no sling e, antes de dormir, ouve o pai cantando uma música que, inicialmente foi feita sobre abuso de drogas, mas que pode muito bem ser vista como a angústia de um homem em sua velhice.

não é qualquer um que entenderia.

25 de set. de 2013

maternidade alternativa não é moda.

em tempos de tecnocratização da vida, é preciso que a gente recorra às essências. pensar no fundamental. no dia em que beijar, abraçar, aquecer as mãos como forma de transmitir amor ou aliviar a dor forem moda, estaremos de fato vivendo o fim de nossa condição humana.


(clique na imagem para ler)


ps - só pra dizer que a ilustração das mães bicho-grilo não me representa. mas o texto sim.

19 de set. de 2013

sobrevivendo a 8º semana.

gostaria de ser aquelas mães dedicadas e fazer update de todos os marcos do filho e ir pondo no blog. mas eu sou avoada, sou cabeça de borboleta e sequer sei em que dia da semana estamos.
não é a toa que pus aquele adesivinho cafona da lilypie no meu blog. só assim eu saberei exatamente a idade do meu filho (a luana está mais fácil, muda uma vez por ano) sem ter que correr pro calendário.
ei, me dê créditos, estou sendo sincera aqui.

enfim, o autran já sorri quando vê um rosto humano.
tudo bem que às vezes ele sorri pro lustre, pro telefone, pra janela, mas quando vê um rosto familiar (eu, luana, moisa) ele sorri, imediatamente. acho que já posso dizer que nos reconhece.
maior gostosinho ver ele despertar, eu falar "bom dia, bebezão" e ele abrir um sorrisão. por segundos, chego a esquecer o cansaço da noite mal dormida.

ah, as noites mal dormidas...
há uns dias atrás tudo parecia estar entrando nos eixos. ele ia dormir sempre no mesmo horário, sem chororô, acordava duas vezes (ou até apenas uma) pra mamar, durante o dia era tranquilo, calmo, tolerava algum tempo deitado ou no carrinho, adorava contemplar seu móbile caseiro por lindos 15 minutos. até dava tempo de eu dar uma geral na casa, ler alguns textos ou descansar.
mas todo o conto de fadas desmorona quando chega o maldito salto de desenvolvimento.

veja, bebê crescem incrivelmente rápido em apenas um ano. tanto fisicamente quanto mentalmente. tem todo um texto lindo que eu poderia falar aqui, explicar tudo bem picadinho, dar referências e etc, mas o principal é: não é nada fácil pra eles.
salto de desenvolvimento é auto-explicativo. logo o bebê vai alcançar uma habilidade nova, como engatinhar, andar, bater palminha, se comunicar.
o autran ainda é novinho demais pra tudo isso, sua habilidade será sorrir mais, melhorar a visão, paladar e olfato, perceber que os pés e as mãos são dele e vai querer controlá-los. também vai experimentar a própria voz e vamos nos deliciar com os gritinhos e "agu", "bubu" e "gaga" que virão. vai ter consciência, vai preferir determinados sons e ambientes, vai começar a mostrar sua personalidade.

tudo isso na cabecinha de um bebê de 2 meses de vida extra-uterina.
é demais pra ele.
então ele fica confuso, angustiado com tanta mudança. e o que você faz quando fica confuso e angustiado? isso mesmo, chora. quer colo, quer afago, quer coisas que te tragam segurança.
e é isso que ele quer agora. só colo, peito, calor e cheiro de mãe.

por isso, os últimos dias tem sido a base de mamazinho de hora em hora, muito choro, muito resmungo, bebê bravo, cochilos curtos, muito colo, sono irregular.

agradeço a internet e todas as informações a respeito dessas fases difíceis. em outros tempos, eu estaria o enchendo de remédio pra cólica, desesperada com tantos extremos.
agora sei que a única coisa que posso fazer é ter paciência e repetir o mantra "VAI PASSAR".

sei que logo terei meu bebê querido de volta.

o porquê da mãe de um bebê (quase) nunca chegar na hora.

pra sair com um bebê, por mais breve e perto que vá ser a saída, pede pelo menos uma bolsinha com os itens básicos: fraldas extras, uma troca de roupa, pano de boca, algodão e água (no meu caso, não uso lenço umedecido). se frio, levo uma mantinha, se for demorar mais que 5 minutos, levo o sling.
pra não ficar toda atrapalhada, jogo minha carteira e celular na bolsa do bebê.

bolsa pronta, agora aprontar bebê.
afinal ele tem que estar limpinho, cheirosinho, lindinho nhóóóó quando vai sair, né. bebê azedinho só dentro de casa, por favor. dependendo do clima, não dou banho, mas passo pano com água morna, troco de roupa, penteio o "cabelo", passo perfuminho (só na roupa).
bolsa pronta, bebê pronto, agora é minha vez.
saio correndo arrancando calça do varal, pego blusa na roupa sem passar e cardigan na cabideira. levo mais tempo calçando o tênis do que colocando a roupa. escovo os dentes, arrumo o cabelo (leia-se solta e amarra de novo) e passo body splash, porque não tou usando perfume (por enquanto).

prendo bebê no bebê-conforto, coloco no carro, prendo o cinto de segurança.

agora podemos sair de casa.

(sinta-se sortuda se você não ser presenteada com aquelas cagadas que sujam até o suvaco do bebê assim que abre a porta da frente)

6 de set. de 2013

uma quarentena de autran.


nhac nhac nhac

parece que eu havia esquecido como era ter um bebê em casa. em algum momento, nesses 10 anos, minha mente bloqueou a parte em que eu deixava de ser eu e passava a ser dominada por uma coisinha que nem sabe que suas mãos são parte do seu corpo.

por isso, esse post será em tópicos, porque eu não tenho mais o luxo de me sentar na frente do pc e passar 2 horas escrevendo, relendo e editando um post de blog.

» há vários meses, moisa me deu um ipad de presente de dia das mães. segundo ele, seria muito útil nos primeiros meses com o autran, pra eu poder ler, ver seriados e navegar na internet enquanto cuido do bebê. e olha... MELHOR PRESENTE EVER! moisa e seu talento premonitório.

» a luana tem sido maravilhosa. apesar de estar naquela fase adolê, é bem compreensiva e prestativa. e o engraçado é que, antes, meu medo era que ela sentisse ciúmes da gente (eu e moisa) com o bebê. fato é que ela tem ciúmes sim, mas do bebê. o irmãozinho é dela, e ninguém tem que ficar de mimimi com ele não.

» o moisa tem sindo impecável. nem tenho palavras pra descrever o quanto ele tem sido minha parte racional nisso tudo. tem me mantido sã.

» autran adora ver a luana dançar, descobrimos ontem.

» amamentação exclusiva até o 6 meses, é o que faremos aqui. pra mim é tipo um sonho realizado, visto que não consegui amamentar a luana por muito tempo (longa história). foi doloroso no início, ainda tenho alguns percalços, mas a livre demanda (sem horários fixos, o bebê mama quando quiser) está indo muito bem. e, lá no fundo, sinto uma satisfaçãozinha em ser a única capaz de acalmar o autran em certos momentos.

» com pouco mais de 15 dias, autran já tomava banho no chuveiro. isso mesmo, chega de encher banheira, da banho correndo pro bebê não passar frio, esvazia banheira, etc, etc. ele sempre chorava muito e minhas costas andavam em frangalhos. um dia eu tirei a roupa e entrei com ele debaixo do chuveiro e foi o primeiro banho em que ele não chorou. esteve a ponto de dormir (chegou a dormir em alguns), de tão relaxado que ficou. daí pra frente tem sido assim. ele até faz carinha feliz quando entra no box comigo.

» desde que o autran nasceu eu saí na rua 7 vezes: pra um grupo de mães, pro pediatra, pro obstetra, pra viajar, pra ir ao mercado, prum churrasco e hoje, pra ir à padaria. ainda não enlouqueci.

» ainda está para ser descrito o sentimento que nos invade quando somos capazes de arrumar o cabelo e vestir uma roupa que não seja pijama enquanto estamos no puerpério.

» com o autran eu passei por um baby blues complicadinho. e com ele eu aprendi que: não há problema em pedir ajuda.

» autran está começando a gostar do sling, nossa primeira experiência ao ar livre foi no churrasco e ele dormiu umas lindas duas horas pendurado. dentro de casa ele parece não curtir muito.

» tenho feito testes com fraldas de pano e até agora tem sido meio desastrosas. mas é porque eu devo ajustar errado. vou continuar tentando, ele fica lindinho demais nas fraldas de pano modernas.

» no início, eu me sentia exausta e sentia que não ia aguentar a falta de estrutura, sono e referência que eram meus dias. hoje alguma coisa parece estar estabelecida, embora eu ainda não saiba bem o que. tenho a impressão que meu corpo está temporariamente habituado ao sono cortado e leve e não me sinto mais tão cansada, ainda que tenha que amamentar 3 ou 4 vezes pela noite.

» adoro não ter mais os pés inchados, adoro passar uma noite inteira sem ir ao banheiro, adoro não ter dor nas costas e pernas. porém, sinto saudades da minha barriga de grávida. acredito que ter usado as mesmas roupas de sempre durante a gravidez faz minha síndrome do útero vazio vir com toda força.

» durante os primeiros meses, estou fazendo cama compartilhada com o autran. apesar das críticas, acredito ser melhor pra mim e pra ele, pois eu preciso de descanso e ele precisa do meu calor e contato. no entanto sinto falta dos pés do moisa pra esquentar os meus.

» fotografá-lo: é o que eu poderia fazer o dia inteiro.




i just called to say thank you.

uau.
antes de tudo, queria dizer: uau!

obrigada, gente.
pelas visitas, comentários, e-mails e mensagens. não imaginei que meu relato teria tais proporções. recebi muito carinho, até de gente que não conheço, por conta da minha história. sinto um orgulho danado de ter sido capaz de mudá-la :)

deixei de relatar várias coisas pequenas que apareciam naquele esquema de flashes. tipo uma conversa com a pediatra em meio a contrações que eu mal conseguia respirar. esse é um detalhe que dói um pouco em mim.
havia feito um plano de parto e nele tinha posto todas as minhas vontades no pré, durante, pós parto e cuidados com o bebê. como não escolhi um pediatra a dedo (se achar um obstetra disposto a ficar disponível a qualquer hora para um parto já é missão impossível, imagina um pediatra...), escrevi detalhadamente o que não gostaria que fosse feito com meu bebê. mas a plantonista chegou num momento complicado, não lhe entreguei o plano de parto para ser discutido e combinado, sequer falei das minhas vontades. a única coisa que lhe pedi foi contato imediato comigo após o nascimento, só depois iria ao berçário. isso era importante demais pra mim.
eu nunca havia parado pra pensar em como os recém-nascidos são tratados, até ver esse video (que é o parto normal mais cirúrgico que eu já vi na vida).

a brutalidade é surreal, pra quem acabou de chegar ao mundo. pra quem nunca sequer teve a pele tocada. pra quem nunca respirou oxigênio. imagina o desespero, frio, choque e medo que ele sente?

só de pensar em como o autran foi tratado depois que o levaram, me dói. dói mais ainda pensar em como a luana foi tratada quando ela nasceu...
pelo menos eu sei que o cordão do autran só foi cortado quando já tava parando de pulsar.
um choque a menos :)

e paro por aqui, senão serão mais 6 posts só pra falar desse assunto.