16 de nov. de 2015

MANHÊ!

autran completou 2 anos e 3 meses dias atrás. vinte e sete meses de vida.
ele é uma figurinha. ao mesmo tempo que vejo tanto da luana nele, percebo também uns comportamentos tão dele, tão únicos. os mais marcantes são as obsessões.

normal crianças de 2 anos terem obsessões, né (acho).
autran começou com as letras do alfabeto. desde que ele aprendeu a mexer no ipad, ele vai direto no youtube e, de alguma forma, achava vídeos pra crianças em fase de alfabetização. hoje em dia é a coisa mais fácil, visto que no youtube do ipad praticamente só se assiste isso, é a única coisa que aparece na página principal.

depois foi a fase das cores.
depois a fase dos números.
agora estamos na fase das formas geométricas e não tão geométricas.

e ele simplesmente não fica só vendo e revendo videos ensinando as letras, cores, números e formas. ele fica caçando tudo que remete à alguma coisa nesse sentido ao seu redor. andar na rua com ele é um espetáculo. ele aponta pra tudo e fica falando letras que vê, cores que vê, números que vê e as formas que vê.
tipo assim, o tempo todo. não tou brincando, o tempo todo.

em casa, a coisa toma proporções ainda maiores.
ele tem um quebra-cabeça de madeira com as formas coloridas e, adivinhem, é o seu brinquedo favorito no momento (mais que a boneca da elsa).


ele senta no sofá com o tabuleiro no colo e fica pegando pecinha por pecinha e falando "manhê! etchi cãrco (esse circle)" e EXPERIMENTA não responder, experimenta responder sem ligar muito, mexendo no celular... é uma gritaria até você olhar pra ele e dizer "oi filho, ah sim, um circle".
é bonitinho, até ele não deixar você conversar com mais ninguém.

outra coisa que ele faz é carregar as peças pra todo lado.
pra comer, pra mamar, pra tomar banho e até pra dormir.
acordar com um hexágono cutucando suas costas, quem nunca?



os dois anos são famosos pela crise do terrible two.
ao mesmo tempo, uma espiada na fase deliciosa que vem em seguida.



26 de ago. de 2015

a odisséia.

o itinerário era simples: banco e correio.
uma saída rápida, no meio da manhã, pra tarde poder ficar entre colos, just dance e trabalho sobre a situação sociolinguística do paraguai.
pus autran no carro e fomos.

aquela coisa de nunca achar estacionamento e de, quando achar, não ser capaz de fazer a baliza.
apelei pro estacionamento em diagonal e, pro meu azar, era bem em frente ao parquinho que costumo levar o autran aos domingos. droga. ele começou a gritar de felicidade dentro do carro, jogou o bichinho vesgo que ele carrega pra todo canto no chão e quis sai pulando. "não filho, hoje não... mamãe tá com pressa... hoje não dá". peguei ele no colo e atravessei a rua, na direção oposta do parquinho. daí começou a gritaria.
quem já carregou toddler de dois anos gritante e esperniante, em pleno chilique, na rua, sabe do que eu tou falando.

entrei na agência e ele se acalmou. começou a correr pra todo lado, pulando, gritando. mudou da água pro vinho. atualização do sistema e me deixam UM caixa disponível pra saque durante a manhã de um dia útil, claro que a fila era imensa. deixei o menino se divertir.
pegou um envelope de depósito, sentou no chão e começou a rasgar em tiras finas. é ele treinando a coordenação motora fina, que bonitinho. daí pegou outro. e depois outro. no quarto eu já não achava tão bonitinho. juntei o montinho de tiras rasgadas bem fininha e trouxe ele pra perto de mim.
ele voltou a pular e correr.
chegou perto de uma moça que estava pagando contas e simplesmente pegou a carteira dela de cima do apoio no caixa eletrônico. corri.
peguei ele no colo.
era quase a minha vez.

a moça que ajuda o pessoal perdidão lá nos caixas eletrônicos me perguntou se podia passar na minha frente pra imprimir seilaoque-é-rapidinho. "não, não pode. só vou sacar, é mais rápido ainda". porfa.

banco ok. voltamos pro carro. mais gritaria porque viu o parquinho e se lembrou que tava muito muito bravo e lá vem um pouco de choro enquanto eu me dirigia ao correio. mas logo acabou, né. liguei o som e ele começou a dançar, etc.

na agência, ufa, vaga grande bem na frente.
entrei na agência, ufa, só duas pessoas na minha frente.
sentei o autran no banco, mas não, queria continuar correndo, gritando, rindo. todo mundo acha lindo, acha fofo. mas dá 1 segundo de descuido e esse menino ta na porta da agência indo pra rua. alcanço. ele tenta fugir de novo, alcanço. na quinta vez eu fico na porta da agência e não deixo ele sair. ele acha divertido, corre e ri tanto que cai no chão.
me chamam. sento ele no balcão e ele começa a se riscar com a caneta. desenho um relógio no pulso dele. nhó.

ele aperta um botão na máquina da moça e algo começa a imprimir.
ela ri e diz que tem uma filha de dois anos também. ufa, alguém ali me entendia.
autran começa a querer papéis, coisas importantes e acabo dando um grampeador pra ele brincar.

quando estou colocando o troco na carteira, ele atira o grampeador com força no chão.
que se quebra em 4 partes.
desço ele do balcão e começo a catar os pedacinhos do grampeador e quando levanto a cabeça, onde ele está?
na porta da agência.
dou o grampeador quebrado pra moça, peço desculpas e saio correndo.

consigo pegar ele na beira do meio-fio, quase indo pra rua.
coloco ele no carro, ligo o som, ele fica olhando pela janela e "cantando".

e eu pensando que puta mundo injusto e que não entende ABSOLUTAMENTE NADA de crianças quando dizem que criança de dois anos não merece fila preferencial.

2 de ago. de 2015

730 dias de peito.

às 5 da manhã autran acordou aos berros.
andou em direção à geladeira e abriu. sinal de que queria água. dei água, sonolenta. caiu um pouco no chão. ele bebeu bastante, "tadinho, tava com sede", pensei. apesar dele ter ficado a noite toda pendurado no peito.
mas ele continuou chorando. alto, desesperado. acordou pai, irmã, todo mundo de pé me perguntando o que ele tinha. não sei, ele está chorando. moisa assumiu e eu voltei a dormir.

não sei que horas ele veio pro peito. não sei que horas ele acordou de novo.
das 5hr às 9hr foi o tempo que eu dormi gostoso. o resultado foi uma enxaqueca matadora.

deitada no colchão, enquanto ele dançava uma música qualquer, me lembrei de toda a nossa história de amamentação.
então resolvi contar.


autran não mamou logo que nasceu.
ele veio pro meu colo, senti seu quentinho, o cheiro de vérnix, os olhos cerradinhos pela claridade do mundo. depois embrulharam numas cobertinhas e eu coloquei ele no peito. não quis. lambeu, cuspiu. nada daquele sugador ávido que eu esperava. começaram a me apressar pra levá-lo ao berçário, e ele foi.
muito frustrada; "ele não mamou na primeira hora de vida".
insisti em deixar o protocolo das 4 horas de observação de lado. cederam. uma hora depois do nascimento, senão menos, ele estava de volta.
e daí começou a nossa história.

autran chorou a primeira noite inteira.
enfermeiras entravam no quarto perguntando o que ele tinha. ele sugava o peito mas "nada" saía.
eu nunca vi a cor do meu colostro. ele não acertava a pega do seio direito, machucava. fiquei uma manhã inteira no berçário sendo ajudada por uma enfermeira. a pediatra falou pra dar chá com um pouco de açúcar pra ele não desidratar, a copeira me trouxe um copão de chá de erva-doce e dois sachês. peguei o chá pra mim e fui andar com ele pelo hospital. ele continuava chorando.
fomos pra casa.
a pega do seio direito ainda não estava 100%. os bicos começaram a arder.

a descida do leite veio 5 dias depois.

achei que com isso ele iria dormir melhor, chorar menos.
logo veio o primeiro pico de crescimento dele. a primeira crise de choro minha.
o baby blues bateu forte. me sentia sozinha, desamparada. sentia dor e muito cansaço.
peitos ingurgitados, mamilos rachados, frio.
apesar das milhares de leituras, o puerpério é barra pesada pra todo mundo.

passou um mês, dois, e a pega do seio direito ainda era problema.
de repente, ele passou a não querer mais. no cansaço, na preguiça, fui deixando. ordenhava, congelava e a vida continuava. quando percebi, há semanas que estavávamos na amamentação unilateral.
resolvi agir. pesquisa, conversa, leitura... tentei todas as posições possíveis. aos poucos aceitou o peito direito deitado, enquanto dormia. foi quando aprendi a amamentar deitada.
passei a dar o peito direito durante a noite e o esquerdo durante o dia.
depois desse padrão estabelecido, passei a oferecer o peito direito com ele sentadinho de frente. aceitou.
a pega do peito direito só foi ficar tranquila quando ele começou a sentar e procurar sozinho posições confortáveis pra mamar.
por ficar tanto tempo mamando num peito só, senti dor nos mamilos até os 4 meses.

a frequência das mamadas sempre foi muito grande.
essa foi, aliás, a grande surpresa e "dificuldade" pra mim. ter um filho que exigisse tanto de mim, que fosse tão drenador, tão necessitado de contato físico, tão mamador... nunca me passou pela cabeça.
as demandas do autran foram MUITO estressantes no começo.
tão estressantes que eu sentia que ia enlouquecer a qualquer momento. era 24 horas com ele no colo, no peito. vinte quatro horas sim, porque nós dormíamos juntos. cama compartilhada não foi somente uma escolha e uma consequência da criação com apego, foi questão de sobrevivência, de sanidade mental.
tão estressantes que sucumbimos à chupeta por algumas semanas entre o terceiro e o quarto mês. ele usava pra dormir e para viajar. tiramos quando eu saí de férias da faculdade. criar um bebê high need sem chupeta é viver no limite. mas quando a fase da sucção passa e ele cresce, vira uma vitória pessoal comemorada todos os dias.

a livre demanda, que por vezes chamei de livre escravidão.
sentar no sofá com o bebê no peito, ligar o primeiro senhor dos anéis, versão estendida, e ainda estar sentada no sofá com o bebê no peito quando termina o terceiro filme do senhor dos anéis, versão estendida. você apenas se levantou pra fazer xixi e beliscar um lanche. toma banho junto com o bebê, e vai pra cama com ele.
autran mamou, literalmente, o quanto e quando quis desde sempre.
enfiei na cabeça que o sucesso da amamentação seria a livre demanda, e me apeguei a ela.
teve arrependimento, teve horas de pedir "por favor, para de mamar um pouco, me dá um descanso". mas ele nunca deu.

autran nunca teve cólica.
mamou exclusivamente no peito até os 6 meses.
pegou um único resfriado aos 11 meses.

autran hoje tem 2 anos.
ainda mama durante a noite.
ainda dorme mamando.
ainda quer peito depois de cada refeição.
quando ele se sente inseguro, assustado ou cansado, é o peito que ele procura.
ainda hoje, quando ele fica muito tempo sem mamar, vaza um pouco de leite.


não tive uma grande rede de apoio na minha história de amamentação. muitos a consideram de sucesso, inclusive eu. problemas tive, os comuns e esperados. especialmente o cansaço.

porém tive uma grande persistência, uma crença enorme na livre demanda e um desejo imensurável de não repetir erros.
luana não mamou por ignorância e desinformação.
autran chegou e me tirou esse vácuo do peito.






3 de mai. de 2015

33 perguntas.

pra dar um pouco de leveza.
direto do blog da juliana.

1. Por que você costumava levar bronca quando criança?
por me sujar, sempre. se fosse hoje em dia, minha mãe seria uma daquelas mães fashionistas que tem blogs/instagram/fan page pra mostrar os looks das filhas. ela vivia enfeitando a gente (eu e minha irmã), vestindo de modo um que combinasse, da cabeça aos pés. quando íamos sair, ela arrumava a gente primeiro. enquanto esperávamos, eu ia brincar e SEMPRE arrumava um jeito de me sujar. quando a coisa envolvia meia-calça então, meu deus. não sei porque ela insistia em por meia-calça em mim. era certeza de joelhos encardidos e/ou rasgos.

2. Qual foi a última vez em que você saiu sem rumo?
não costumo fazer isso, não sei andar sem rumo.

3. Três objetivos para seu futuro:
futuro próximo: dar um jeito no cabelo, voltar pra academia.
futuro distante: terminar a faculdade.

4. O que você encontraria se abrisse a geladeira neste exato momento?
fiz mercado ontem, então está uma coisa linda de se ver. tem frutas, legumes, verduras, resto do almoço, pão integral, queijo, azeitona, gelatina e uma tubaína.

5. Qual tecnologia ocupa mais o seu tempo?
smartphone.

6. Uma coisa usada que você comprou:
em sua maioria, livros.

7. Qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
olho o whatsapp.

8. Do que você precisa neste exato momento?
tomar banho.

9. Qual foi a última coisa que você leu, ouviu ou assistiu que te inspirou?
as fotos desse parto domiciliar.

10. Um souvenir que você comprou ou ganhou…
o último: ganhei um lápis de las vegas!

11. O que te deixa estressada?
stress alheio. sou meio esponja emocional.

12. Já morou em outro país além do Brasil?
morei no japão entre 1998 e 2000.

13. Você tem tatuagem?
sim, tenho cinco.

14. Qual foi a última coisa que você pesquisou no Google?
a letra de uma música chamada "long hard times to come".

15. Qual a sua maneira de ser egoísta?
tento de várias formas conseguir o que eu quero (chantagem emocional, argumento válido, beicinho, etc). mas nada patológico, fora do normal.

16. O que demora demais?
ALIEXPRESS!

17. A última vez em que você ficou acordada durante a noite toda…
o mundo pode acabar que eu não perco o sono. nem durante meu trabalho de parto eu deixei de dormir. sempre arrumo um jeito de dormir.

18. Qual comida que todo mundo ama mas que você odeia?
não que eu odeeeeie, mas não acho brigadeiro lá aquelas coisas.

19. O que você está vestindo agora? O que essa roupa diz sobre você?
um vestido preto e branco. primeiro vestido que tenho sem ser pra um casamento/formatura depois dos 10 anos de idade. isso diz muita coisa.

20. Já fez amigos ou se apaixonou por alguém que você conheceu pela internet?
eu me casei com alguém que eu conheci pela internet. começa aí.

22. Qual foi a primeira coisa que você comprou com seu dinheiro?
de mesada: uma pasta e papéis de carta.
de trabalho: um cd do hanson.

23. O que tem na sua prateleira?
não tenho "minha" prateleira. tenho estantes pela casa e que são ocupadas por livros.

24. Como você se acalma depois de um dia estressante?
netflix, sofá, banho, cama.

25. Escreva sobre algo que você quebrou:
sou desastrada. tudo cai da minha mão, e se eu seguro com força, ponho força demais que se despedaça. mas não consigo pensar em nada curioso, só pratos, eletrônicos, coisas clássicas.

26. O que você mais gosta de comer no café da manhã?
café da manhã é a refeição mais sofrível pra mim. ultimamente ando comendo torradas com chá.

27. Como quer que sua vida de aposentada seja?
confortável.

28. O que você leva em consideração ao votar em um partido político?
políticas de costumes e políticas públicas.

29. A religião é um fator importante na sua vida? Por quê?
não. porque eu não me sinto representada, nem amparada e muito menos confortada pela religião.

30. Como está sua casa agora, limpa, suja?
suja e bagunçada (feriado).

31. Você não economiza quando o assunto é:
não gosto de esbanjar. sempre procuro uma alternativa barata e segura. então não tenho dessa de "não vou economizar nisso" porque eu SEMPRE procuro economizar (novamente, nada fora do normal). isso se a pergunta for em relação a dinheiro, né.

32. Você separa o lixo para reciclagem?
sim.

33. Sua sobremesa favorita?
mousse de maracujá, uva ou limão.

2 de mai. de 2015

it's been so long.

o que eu sinto é vácuo.
fui no hd externo vasculhar fotos e ver o que andamos fazendo nos últimos meses e a constatação é que nem fotos eu ando tirando muito. uma câmera com lentes que valem mais que minha bicicleta e eu não tiro fotos. no celular, imagens do que o autran come, print screen engraçadinhos pra dividir no whatsapp e autran tirando fotos dele mesmo.

esse ano eu decidi que ia me dedicar a faculdade. dois estágios, matérias que exigem muita leitura e discussão e ~prestar atenção na aula~. não dava pra levar nas coxas. mas tive um mês de aula. duas greves, governo tirando sarro da categoria, escolas e universidades paradas.
o cosmos novamente dizendo que eu não tenho controle mesmo sobre nada.

autran está numa fase delicada. fez 21 meses dias atrás.
pula, roda, corre, finge que bate a cabeça pra ganhar meu colo e afago (com se já não tivesse).
fala pouco. grita muito. come pouco. mama muito.
responde "não" pra tudo.
sai correndo quando vê que estamos atrás dele.
adora tirar toda a roupa - fralda, inclusive - pra tentar por de volta.
ele escovando os dentes é a coisa mais fofa desse mundo.
ele escovando os cabelos é a coisa mais fofa desse mundo.

luana está a cada dia ganhando um troféu maior de "adolescente realness".
vive com sono. vive com fome. vive falando pelos cotovelos.
vai da menina bonitinha queridinha pra monstrinho mau-humorado em 5 segundos.
esses dias passou o dia inteiro numa maratona de once upon a time. e depois queria me contar tudo.
drama queen.
pinta os cabelos de azul. mas essa é a única contestação.
de rebelde somente os hormônios, mas disso ela não tem controle.
vejo nela tanta ansiedade e ao mesmo tempo tanto frescor.

ainda me vejo equilibrando entre os dois.
não vejo muita diferença do texto anterior e, veja, já fazem dois meses.
como disse, vácuo.

***

fiz uma tatuagem em homenagem ao meu pai.
a decisão foi no dia do velório dele.

ele sempre fez piada das tatuagens, alargadores e piercings. dizia brincando que ia fazer também.
pensei em nada melhor que uma tinta no couro pra celebrar a vida que ele teve.

o desenho é um barco.
no catálogo oldschool, barco significa aventura. e bem, isso que a vida com meu pai foi, uma aventura.
mudanças drásticas, viagens insanas, sem medo do desconhecido com a mala, cuia e três filhas a tiracolo.
no catálogo amanda-de-ser, barco significa uma paixão do papai. e uma piada interna da família.
minha irmã disse que ele não ia poder ensinar pros netos o que é "bombordo" e "estibordo". coisa que ele tentou a vida inteira ensinar pra gente e a gente confundia.
meu pai foi escoteiro, adorava acampar, pescar. sabia nós e tudo mais.
decidi fazer um barco pra nunca mais esquecer que estibordo é o lado direito da embarcação em relação a proa - a frente do barco. e o bombordo é o oposto, o lado esquerdo.

a frase é "the stars will be your eyes and the wind will be your hand".
achei que combina com o desenho. quem olha de longe até consegue conectar.
o barco é um veleiro, que funciona com a força do vento. estrelas e navegação tem uma história romântica.
"as estrelas serão seus olhos e o vento será a sua mão". perfeito.

a frase foi tirada de uma música chamada far from any road, da banda the handsome family.
fiz uma pequena mudança na frase pra fazer mais sentido no contexto da minha tatuagem.
ainda assim, ao pensar no combo papai, veleiros, estrelas, a música, a frase, e o momento soturno em que tudo isso veio a tona, pra mim é uma ilustração perfeita.


acho que ele ia gostar.

8 de fev. de 2015

i'll get though becoming you.


difícil escrever qualquer coisa depois do último post.
não queria parecer fria e fingir que nada aconteceu, mas também não queria trazer o assunto a tona. deixei o tempo passar, e passou até demais.
tanta coisa acontecendo, tanta coisa rolando e eu não sabendo nem por onde começar. é assim que a gente perde a mão num blog. de repente nada serve pra virar post, mesmo a gente sabendo que poderia virar. é costume mesmo, hábito.


procurei muito entender o mix de emoções que senti durante o velório do meu pai e percebi que aquela era minha forma de luto.
senti muita raiva e vontade de gritar pra todo mundo ir embora. senti muito ódio naquelas horas. não queria que me tocassem, não queria que me abraçassem, que me consolassem. queria ficar sozinha. me escondia onde era possível. agia de forma estranha pra encerrar conversas. fui grossa, fui estúpida, deixei pessoas falando sozinhas. estava constrangida por tudo aquilo. sempre achei velórios uma coisa bizarra, e entendo que pra algumas pessoas seja necessário, que é uma forma de despedida. mas pra mim não. nunca vou conseguir perdoar (quem?) que a última imagem que tenho do meu pai seja cheirando flores, rígido, num caixão. aquele não era meu pai. meu pai cheirava cigarro, sorria suave e viva com o olhar doce e perdido. foi mentalizando essa imagem que 'me despedi' dele, deitada na cama que foi dele. uma conversa telepática que nunca teríamos se ele estivesse na minha frente. porque meu pai entendia meus silêncios, a minha dificuldade de expressar-me. porém, o cortejo foi estranho e bonito, todo mundo cantando baixinho "como é grande o meu amor por você". puxado pela voz e violão de um amigo de longa data e companheiro de banda do meu pai. foi emocionante. se não fosse a circunstância trágica, filmaria.
erguendo a cabeça, corpo e mente, saímos numa viagem que há anos planejávamos.

procurei muito uma expressão pra ilustrar o que foi o final o ano e só consigo pensar em bittersweet.
nunca aconteceu de viajarmos todos juntos, eu, mãe e minhas irmãs. passamos os últimos dias de 2014 na praia, enchendo a barriga de comida, morgando e tendo maratonas de once upon a time. fazia 7 anos desde a última vez que pus os pés no mar. autran não conhecia. foi bonito, foi gostoso. precisávamos.

procurei muito manter um ritmo desde que voltei pra casa e reconheci minha dificuldade com rotinas.
mais de trinta dias longe de casa, sentei e olhei em volta diversas vezes esperando uma mágica que me fizesse ser enérgica, dinâmica, eficiente. na real espero essa mágica há uns vinte anos. ela nunca chegou. o que chegou foi a hora de lidar com o eu real. e o eu real é difícil de encarar. tanto que preferi sentar no sofá com a luana, com um pote de pipoca e uma cuia de tereré e ter deliciosas tardes regadas a rupaul's drag race. luana e eu vibramos cada vez que uma queen odiosa saía e vibramos o dobro quando ~spoiler alert~ jinkx e bianca venceram suas respectivas temporadas (eram nossas favoritas).



dois mil e quinze chegou e junto veio um toddler e uma preteen.
toddler é o bebê que anda, corre, grita, resmunga, chora, se joga no chão e desafia.
preteen é a pré-aborrescente que fala, fala, fala, fala, fala, reclama, vira os olhos, fala e reclama.

as fases mais intensas e que me exigem de formas tão distintas.
ás vezes é bastante frustrante, parece que nado contra corrente, que não saio do lugar. é aquele furacão diário, exigências mentais e corporais da hora que acordo a hora que vou dormir, e até durante o sono, vamos ser sinceros (cama compartilhada, oi!). os dias se atropelam e me engolem e de repente já é fevereiro.
no início de 2014 me senti do mesmo jeito e quando percebi, o ano acabou.
difícil olhar pra trás e ver que tanta coisa aconteceu, tão rápido, enquanto eu estive presente mas correndo o suficiente pra não me dar conta.

e aí que entra o lance de encarar o eu real.
o eu real é calmo, relaxado, gosta das pequenas coisas, os pequenos prazeres. como o tereré com pipoca e o reality show de drag queen com a filha mais velha. o eu real não liga pras coisas fora do lugar na estante da sala e no balcão da cozinha, não se importa muito que o piso está sujo ou que a roupa está no varal mais do que devia. o eu real para pra ver nuvens e ainda lê rótulos de desinfetante no banheiro. é devagar, é cabeça de borboleta.
mas na minha (não)rotina atual, não existe espaço pra isso. sentar e relaxar depois do almoço culmina em louça sem lavar e uma montanha acumulada pra próxima refeição que atrasa tudo em uma hora. a roupa suja acumula, a sujeira acumula, as fraldas, os brinquedos pela casa, os compromissos. e ao tentar cuidar de tudo, eu não cuido de nada.
vem um colapso.
vem um choque.

aprender a lidar com esses dois extremos tem sido doloroso.
mas tudo que é doloroso é recompensador.

voltarei pra contar.