o jeito era abraçar o capeta e usar o que tinha nas mãos.
fizeram exame de sangue, mediram temperatura, pressão. todo mundo me parabenizando, perguntando que horas seria a cesária. "vai ser normal". as reações variavam entre me chamar de corajosa e contar histórias de partos normais mal sucedidos.
que belo incentivo!
me levaram pra salinha de cardiotocografia.
ela estava cheia de mulheres com o semblante cansado, algumas contando que estavam ali desde sei lá que horas (já era quase 7 da noite) esperando uma ultrassonografia. a enfermeira que colocava as cintas do aparelho de cardiotoco em mim comentou que "o pessoal da ultra" já tinha ido embora. uma mini revolta.
eu tentava me manter calma.
me lembrava das histórias de mulheres que fugiram do hospital durante o trabalho de parto. pensei que seria bom eu ter um "plano de fuga" hah.
tudo bem com o coração do bebê, tudo bem comigo.
voltei pro quarto e me senti DESOLADA. era essa a palavra. até então estava sozinha, moisa havia voltado pra casa pra tomar banho, jantar e arrumar suas coisas pra passar a noite no hospital comigo.
os momentos de felicidade eram quando eu sentia alguma contração. pelo menos o trabalho de parto estava querendo evoluir.
pouco além das 9 da noite, recebi a visita da minha mãe e irmã. contei o tempo das contrações e estavam vindo de 10 em 10 minutos.
a coisa tava progredindo :)
elas saíram, liguei o som do ipad numa lista das minhas músicas favoritas.
renata chegou pra ver como eu estava e junto trouxe uma térmica com chá da naolí.
tomei aquilo por um bom tempo. era gostoso, um "amarguinho" misturado com o sabor do chocolate. além de esquentar o corpo no frio que fazia.
por volta das 11, fui novamente fazer cardiotoco.
agora a salinha estava vazia, apenas uma moça tomando soro. as contrações continuavam ritmadas e doloridinhas, mas nada que eu não aguentasse.
uma hora, a moça tomando soro puxou assunto. ela estava ali porque havia perdido o bebê de 8 semanas. estava na ocitocina sintética pra expelir o que um dia seria um bebezinho. via muita tristeza em seu olhar, sua voz.
não pude deixar de me lamentar por aquela situação: nós duas, sob efeito do mesmo hormônio, porém com desfechos diferentes.
então a renata foi embora, moisa voltou e fomos dormir.
havia baixado um aplicativo no ipad para contar as contrações. passei a noite inteira abraçada naquilo. a cada onda que vinha, marcava seu início e seu fim.
foi sorte minha ter passado grande parte do trabalho de parto à noite. pouca gente no hospital, quase ninguém sabia que lá havia uma "louca" dilatando no quarto, com o marido dormindo na cama ao lado. sempre vinham medir pressão, temperatura. perto da uma da manhã, outro cardiotoco. dr. rudey apareceu pra dar uma olhada, descabelado, cara de sono. outro golpe de sorte: era ele o plantonista naquela noite. aliviou um pouco quando avisou o enfermeiro bem-humorado que o próximo só às 5 da manhã.
eu precisava dormir.
deu pra descansar. mas não foi um sono tranquilo, como mostra o histórico das contrações. os espaços grandes entre elas são causados ou por exames ou por amandinha caindo no sono assim que a contração ia embora e esquecia de apetar o "stop".
passei a noite bem. a regularidade e o aumento da intensidade das contrações me deixavam feliz. via que a coisa engrenou de vez, que apesar do medo, seu curso natural estava correndo.
o dia amanheceu.
contrações mais doloridas, intervalos menores. renata chega com sua tralha e mais uma térmica de chá, pra aquecer o corpo e a alma.
às 7 da manhã, mais de 12 horas depois da entrada no hospital e 24 horas depois da bolsa ter estourado, o médico vem me avaliar novamente. nessa hora eu tremi. medo de não ter dilatado nada, medo de ter passado por tudo em vão, medo que puxava medo.
mas daí a surpresa: 7 centímetros!
sete :)
SETE!
sorri. respirei aliviada.
estava chegando a hora.
s-e-t-e ^^