no dia 9 de dezembro conversava com minha irmã mais velha pelo whatsapp sobre meu pai.
ela ficou o dia inteiro com ele e me contava como ele estava. ele havia perdido a força nas pernas e estava na cadeira de rodas. ficava boa parte do tempo dormindo, respirando com o auxílio de uma bomba de oxigênio. estava planejando ir vê-lo dia 12 e ficar até o natal. falamos de como seria bom pra ele ver os netos e ficar um tempo comigo (sou a única filha que mora longe).
no dia 10 de dezembro acordei e li minha irmã me contando pelo whatsapp que a ambulância foi buscar meu pai pois ele respirava com muita dificuldade. algumas horas depois, ela me ligou dizendo que a situação era grave. chorei. liguei pra minha chefa e pedi pra ser liberada da semana pedagógica. arrumei minha mala correndo (esqueci mil coisas). arrumei a mala do autran correndo. almocei. levei a luana pra escola e peguei a estrada. cheguei no hospital e vi meu pai sofrendo para respirar. ele me viu, sorriu, me abraçou, tirou a máscara de oxigênio para me beijar. trocamos poucas palavras. ele dormia muito. mix da medicação e defesa do corpo.
no dia 11 de dezembro acordei com minha irmã me ligando. meu pai havia piorado consideravelmente e eu deveria correr pro hospital. autran estava com diarreia, decidi tomar banho e dar banho nele. amamentei. arrumei a bolsa e saí. não achava lugar pra estacionar. quando achei uma vaga longe demais do hospital minha irmã me ligou avisando que meu pai havia ido.
estacionei.
desci.
tirei o autran do carro.
andei rápido com ele no colo. senti minhas panturrilhas queimarem.
deixei autran na recepção com minha irmã caçula e subi as rampas do hospital do câncer de maringá.
meu pai morreu no dia 11 de dezembro de 2014, aos 59 anos, de osteossarcoma cervical.
16 de dez. de 2014
5 de set. de 2014
bonanza.
no relógio, batia 16h25.
tinha um compromisso às 16h30 e tinha acabado de perceber que a blusa que eu havia separado pra vestir estava suja. tinha pego a blusa na montanha-nível-everest de roupa limpa-ainda-sem-passar. joguei em cima da tábua de passar e fui cuidar da vida. "antes de sair eu passo, assim não amassa e nem suja", pensei eu. enquanto passava ferro numas das poucas blusas decentes da minha categoria ~para amamentar~, percebi uma sujeirinha. e não era qualquer sujeirinha: era merda de passarinho.
uma parte do varal fica bem embaixo de um ninho que pardais fizeram no telhado da minha casa. sempre esqueço disso e tenho surpresas desse tipo.
jogo a blusa de volta pro cesto e pego outra, ainda da categoria ~para amamentar~, mas das que também fazem parte da categoria ~só uso quando não tem mais nenhuma limpa~.
era 16h27 e eu mandei um audio no whatsapp avisando do ocorrido e que ia atrasar uns minutinhos.
pus autran no carro e parti.
no caminho, sentia uma sensação de "dever cumprido" do dia.
havia feito tudo que tinha planejado antes de me levantar: lavar o cabelo, fazer o trabalho de linguística de uma forma decente.
(vejam como minhas expectativas andam baixas)
ir para a reunião das 16h30 sem estar vergonhosamente atrasada também era uma mini-vitória, apesar de eu ter planejado dar banho no autran antes de sair e montar uma bolsa digna.
como ele foi especialmente demandante enquanto eu me afogava pra achar exemplos textuais de ~heterogeneidade tipológica~, terminei o trabalho em cima da hora.
o jeito foi dar um banho de gato com paninho molhado na água com cravo, por uma roupa limpa, chinelo limpo, perfuminho pra enganar, pegar uma bolsa qualquer e jogar lá fralda, paninho, uma banana e o copinho de água.
fim da reunião. esqueço de fazer a inscrição pra uma prova que tenho que fazer. ainda assim, chego em casa 10 minutos antes de ter que sair para pegar o ônibus e partir pra faculdade.
cheguei agora, às 23h50.
autran já dorme. luana já dorme.
nesses dias corridos assim, que é tudo atropelado, afobado, afetado, quando chega a paz, eu sinto um vazio.
encher as horas de repente é ruim.
esvaziar é pior ainda.
tinha um compromisso às 16h30 e tinha acabado de perceber que a blusa que eu havia separado pra vestir estava suja. tinha pego a blusa na montanha-nível-everest de roupa limpa-ainda-sem-passar. joguei em cima da tábua de passar e fui cuidar da vida. "antes de sair eu passo, assim não amassa e nem suja", pensei eu. enquanto passava ferro numas das poucas blusas decentes da minha categoria ~para amamentar~, percebi uma sujeirinha. e não era qualquer sujeirinha: era merda de passarinho.
uma parte do varal fica bem embaixo de um ninho que pardais fizeram no telhado da minha casa. sempre esqueço disso e tenho surpresas desse tipo.
jogo a blusa de volta pro cesto e pego outra, ainda da categoria ~para amamentar~, mas das que também fazem parte da categoria ~só uso quando não tem mais nenhuma limpa~.
era 16h27 e eu mandei um audio no whatsapp avisando do ocorrido e que ia atrasar uns minutinhos.
pus autran no carro e parti.
no caminho, sentia uma sensação de "dever cumprido" do dia.
havia feito tudo que tinha planejado antes de me levantar: lavar o cabelo, fazer o trabalho de linguística de uma forma decente.
(vejam como minhas expectativas andam baixas)
ir para a reunião das 16h30 sem estar vergonhosamente atrasada também era uma mini-vitória, apesar de eu ter planejado dar banho no autran antes de sair e montar uma bolsa digna.
como ele foi especialmente demandante enquanto eu me afogava pra achar exemplos textuais de ~heterogeneidade tipológica~, terminei o trabalho em cima da hora.
o jeito foi dar um banho de gato com paninho molhado na água com cravo, por uma roupa limpa, chinelo limpo, perfuminho pra enganar, pegar uma bolsa qualquer e jogar lá fralda, paninho, uma banana e o copinho de água.
fim da reunião. esqueço de fazer a inscrição pra uma prova que tenho que fazer. ainda assim, chego em casa 10 minutos antes de ter que sair para pegar o ônibus e partir pra faculdade.
cheguei agora, às 23h50.
autran já dorme. luana já dorme.
nesses dias corridos assim, que é tudo atropelado, afobado, afetado, quando chega a paz, eu sinto um vazio.
encher as horas de repente é ruim.
esvaziar é pior ainda.
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dear diary
3 de ago. de 2014
365 dias de autran.
com alguns dias de atraso, venho comemorar publicamente o aniversário do meu filho.
autran fez um ano, no último dia 26.

e que delícia de um ano!
acho que nunca havia passado por um processo de mudança tão grande quanto o do último ano. acho que nem com a luana foi assim. autran chegou me mostrando que bebê bom não é sinônimo de bebê quieto, que existe uma coisa no mundo chamada "bebê high need" e que eu fui agraciada com um. autran me mostrou todo um mundo paralelo chamado maternidade ativa, e que mergulhar nele uma vez é nunca mais sair.
autran me mostrou o mundo das fraldas de pano, do sling, da amamentação prolongada, da criação com apego, do BLW, de montessori... tantas certezas absolutas caíram por terra, me mostrando que nunca é tarde para mudar. que informação pode salvar vidas.
nesse ano, decidi não fazer festa.
por meses fiquei debatendo comigo mesma, pensando nos prós e contras. conversando com pessoas que adoram a ideia, com pessoas que nem tanto. cheguei a seguinte conclusão de que o primeiro ano do bebê deve ser comemorado sim, deve ser lembrado, registrado, dado sua devida importância. tudo isso, da forma que a família entender. se for um jantar para parentes e amigos próximos, uma saída para um restaurante, um pizzaria, um passeio, uma festa de buffet. tanto faz. o primeiro ano é para a família comemorar os turbulentos e intensos 12 meses.
acredito que depois dos dois anos o bebê entende bem o conceito de festa, o objetivo e finalidade.
sendo assim, resolvi fazer uma coisa bem simbólica e minha.
com uma receita de bolo de cenoura natureba nas mãos, fiz pequenos cupcakes e deixei o autran devorar da única forma que tem devorado tudo o que lhe é posto na frente: com as mãos. foram fotos deliciosas, tiradas com meu celular mesmo.
uma receita feita pelas minhas mãos, na tranquilidade do nosso lar, num momento íntimo e acolhedor.
e foi lindo, pra mim. que estou há um ano sem dormir uma noite toda, que estou há um ano lendo e aprendendo incansavelmente, que estou há um ano procurando sempre melhorar em alguma coisa.

cada filho que chega, a gente descobre uma lacuna, a qual não sabia que existia e precisa ser preenchida.
parece que nunca mais vamos conseguir viver sem ser imersa num amor que nem sei da onde surge. e nos perguntamos como conseguimos chegar até ali sem ter isso antes.
ter um filho e mágico, transformador.
ter um filho fazendo um ano é de uma sensação de que a qualquer momento vou explodir de encanto.




autran fez um ano, no último dia 26.

e que delícia de um ano!
acho que nunca havia passado por um processo de mudança tão grande quanto o do último ano. acho que nem com a luana foi assim. autran chegou me mostrando que bebê bom não é sinônimo de bebê quieto, que existe uma coisa no mundo chamada "bebê high need" e que eu fui agraciada com um. autran me mostrou todo um mundo paralelo chamado maternidade ativa, e que mergulhar nele uma vez é nunca mais sair.
autran me mostrou o mundo das fraldas de pano, do sling, da amamentação prolongada, da criação com apego, do BLW, de montessori... tantas certezas absolutas caíram por terra, me mostrando que nunca é tarde para mudar. que informação pode salvar vidas.
nesse ano, decidi não fazer festa.
por meses fiquei debatendo comigo mesma, pensando nos prós e contras. conversando com pessoas que adoram a ideia, com pessoas que nem tanto. cheguei a seguinte conclusão de que o primeiro ano do bebê deve ser comemorado sim, deve ser lembrado, registrado, dado sua devida importância. tudo isso, da forma que a família entender. se for um jantar para parentes e amigos próximos, uma saída para um restaurante, um pizzaria, um passeio, uma festa de buffet. tanto faz. o primeiro ano é para a família comemorar os turbulentos e intensos 12 meses.
acredito que depois dos dois anos o bebê entende bem o conceito de festa, o objetivo e finalidade.
sendo assim, resolvi fazer uma coisa bem simbólica e minha.
com uma receita de bolo de cenoura natureba nas mãos, fiz pequenos cupcakes e deixei o autran devorar da única forma que tem devorado tudo o que lhe é posto na frente: com as mãos. foram fotos deliciosas, tiradas com meu celular mesmo.
uma receita feita pelas minhas mãos, na tranquilidade do nosso lar, num momento íntimo e acolhedor.
e foi lindo, pra mim. que estou há um ano sem dormir uma noite toda, que estou há um ano lendo e aprendendo incansavelmente, que estou há um ano procurando sempre melhorar em alguma coisa.

cada filho que chega, a gente descobre uma lacuna, a qual não sabia que existia e precisa ser preenchida.
parece que nunca mais vamos conseguir viver sem ser imersa num amor que nem sei da onde surge. e nos perguntamos como conseguimos chegar até ali sem ter isso antes.
ter um filho e mágico, transformador.
ter um filho fazendo um ano é de uma sensação de que a qualquer momento vou explodir de encanto.












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