6 de set. de 2013

uma quarentena de autran.


nhac nhac nhac

parece que eu havia esquecido como era ter um bebê em casa. em algum momento, nesses 10 anos, minha mente bloqueou a parte em que eu deixava de ser eu e passava a ser dominada por uma coisinha que nem sabe que suas mãos são parte do seu corpo.

por isso, esse post será em tópicos, porque eu não tenho mais o luxo de me sentar na frente do pc e passar 2 horas escrevendo, relendo e editando um post de blog.

» há vários meses, moisa me deu um ipad de presente de dia das mães. segundo ele, seria muito útil nos primeiros meses com o autran, pra eu poder ler, ver seriados e navegar na internet enquanto cuido do bebê. e olha... MELHOR PRESENTE EVER! moisa e seu talento premonitório.

» a luana tem sido maravilhosa. apesar de estar naquela fase adolê, é bem compreensiva e prestativa. e o engraçado é que, antes, meu medo era que ela sentisse ciúmes da gente (eu e moisa) com o bebê. fato é que ela tem ciúmes sim, mas do bebê. o irmãozinho é dela, e ninguém tem que ficar de mimimi com ele não.

» o moisa tem sindo impecável. nem tenho palavras pra descrever o quanto ele tem sido minha parte racional nisso tudo. tem me mantido sã.

» autran adora ver a luana dançar, descobrimos ontem.

» amamentação exclusiva até o 6 meses, é o que faremos aqui. pra mim é tipo um sonho realizado, visto que não consegui amamentar a luana por muito tempo (longa história). foi doloroso no início, ainda tenho alguns percalços, mas a livre demanda (sem horários fixos, o bebê mama quando quiser) está indo muito bem. e, lá no fundo, sinto uma satisfaçãozinha em ser a única capaz de acalmar o autran em certos momentos.

» com pouco mais de 15 dias, autran já tomava banho no chuveiro. isso mesmo, chega de encher banheira, da banho correndo pro bebê não passar frio, esvazia banheira, etc, etc. ele sempre chorava muito e minhas costas andavam em frangalhos. um dia eu tirei a roupa e entrei com ele debaixo do chuveiro e foi o primeiro banho em que ele não chorou. esteve a ponto de dormir (chegou a dormir em alguns), de tão relaxado que ficou. daí pra frente tem sido assim. ele até faz carinha feliz quando entra no box comigo.

» desde que o autran nasceu eu saí na rua 7 vezes: pra um grupo de mães, pro pediatra, pro obstetra, pra viajar, pra ir ao mercado, prum churrasco e hoje, pra ir à padaria. ainda não enlouqueci.

» ainda está para ser descrito o sentimento que nos invade quando somos capazes de arrumar o cabelo e vestir uma roupa que não seja pijama enquanto estamos no puerpério.

» com o autran eu passei por um baby blues complicadinho. e com ele eu aprendi que: não há problema em pedir ajuda.

» autran está começando a gostar do sling, nossa primeira experiência ao ar livre foi no churrasco e ele dormiu umas lindas duas horas pendurado. dentro de casa ele parece não curtir muito.

» tenho feito testes com fraldas de pano e até agora tem sido meio desastrosas. mas é porque eu devo ajustar errado. vou continuar tentando, ele fica lindinho demais nas fraldas de pano modernas.

» no início, eu me sentia exausta e sentia que não ia aguentar a falta de estrutura, sono e referência que eram meus dias. hoje alguma coisa parece estar estabelecida, embora eu ainda não saiba bem o que. tenho a impressão que meu corpo está temporariamente habituado ao sono cortado e leve e não me sinto mais tão cansada, ainda que tenha que amamentar 3 ou 4 vezes pela noite.

» adoro não ter mais os pés inchados, adoro passar uma noite inteira sem ir ao banheiro, adoro não ter dor nas costas e pernas. porém, sinto saudades da minha barriga de grávida. acredito que ter usado as mesmas roupas de sempre durante a gravidez faz minha síndrome do útero vazio vir com toda força.

» durante os primeiros meses, estou fazendo cama compartilhada com o autran. apesar das críticas, acredito ser melhor pra mim e pra ele, pois eu preciso de descanso e ele precisa do meu calor e contato. no entanto sinto falta dos pés do moisa pra esquentar os meus.

» fotografá-lo: é o que eu poderia fazer o dia inteiro.




i just called to say thank you.

uau.
antes de tudo, queria dizer: uau!

obrigada, gente.
pelas visitas, comentários, e-mails e mensagens. não imaginei que meu relato teria tais proporções. recebi muito carinho, até de gente que não conheço, por conta da minha história. sinto um orgulho danado de ter sido capaz de mudá-la :)

deixei de relatar várias coisas pequenas que apareciam naquele esquema de flashes. tipo uma conversa com a pediatra em meio a contrações que eu mal conseguia respirar. esse é um detalhe que dói um pouco em mim.
havia feito um plano de parto e nele tinha posto todas as minhas vontades no pré, durante, pós parto e cuidados com o bebê. como não escolhi um pediatra a dedo (se achar um obstetra disposto a ficar disponível a qualquer hora para um parto já é missão impossível, imagina um pediatra...), escrevi detalhadamente o que não gostaria que fosse feito com meu bebê. mas a plantonista chegou num momento complicado, não lhe entreguei o plano de parto para ser discutido e combinado, sequer falei das minhas vontades. a única coisa que lhe pedi foi contato imediato comigo após o nascimento, só depois iria ao berçário. isso era importante demais pra mim.
eu nunca havia parado pra pensar em como os recém-nascidos são tratados, até ver esse video (que é o parto normal mais cirúrgico que eu já vi na vida).

a brutalidade é surreal, pra quem acabou de chegar ao mundo. pra quem nunca sequer teve a pele tocada. pra quem nunca respirou oxigênio. imagina o desespero, frio, choque e medo que ele sente?

só de pensar em como o autran foi tratado depois que o levaram, me dói. dói mais ainda pensar em como a luana foi tratada quando ela nasceu...
pelo menos eu sei que o cordão do autran só foi cortado quando já tava parando de pulsar.
um choque a menos :)

e paro por aqui, senão serão mais 6 posts só pra falar desse assunto.

25 de ago. de 2013

no quarto 17 - parte V.

ainda no esquema de flahes, eu via gente entrando no quarto.
até então estávamos só eu, a renata, o médico e uma enfermeira (acho?).

o bebê veio pro meu colo.
eu o sentia quentinho, desajeitado, com um pouco de sangue e vérnix. fazia um barulhinho lindo, ahuuu ahuuu ahuuu ahuuu, como se estivesse reclamando.
eu não lembro o que disse a ele, o que eu fiz. só lembro de senti-lo.
jamais esquecerei a sensação.

senti a placenta ser expelida.
acabou.

tive uma laceração, permiti sutura.
levaram o bebê pro berçário e foi aí que meu corpo se entregou.


senti muita fraqueza, tremia incontrolavelmente, mal conseguia abrir os olhos.
me vestiram, me colocaram numa maca e me levaram pra um apartamento.
(lembra da história de esperar vagar um apartamento, etc?)

era um cansaço extremo.
pudera, tamanho o esforço físico das últimas horas.
quando fiquei sozinha, chorei.
solucei novamente, mas agora de felicidade. minha voz não saía, mas eu pensava: "consegui... consegui..."

***

autran nasceu dia 26 de julho de 2013, às 13h50.
com 3,5kg e 50cm.
após 40 semanas e 5 dias vivendo dentro de mim.

autran nasceu de parto natural hospitalar.
sem anestesia.
sem hormônio sintético.
sem corte (episiotomia).
sem nada que não fosse natural, produzido pelo meu corpo.

autran nasceu depois de uma cesariana.
também conhecido como VBAC (vaginal birth after c-section), derrubando o mito de que não se pode ter um parto normal depois de uma cesárea.

autran nasceu depois de 31 horas de bolsa rota.
num trabalho de parto que durou 16 horas.

autran nasceu com respeito ao seu tempo, ao meu tempo.

e nada disso seria possível se não fossem pessoas.

pessoas como a francy borges, a primeira a quem pedi ajuda. foi a francy que me alertou sobre a situação obtétrica de maringá, que me pôs imediatamente em grupos de discussão no facebook, me abriu portas, me tirou definitivamente da matrix. foi a francy a "culpada" de tudo. se não fosse ela, não sei se teria coletado o tanto de infomação que coletei na gravidez.

pessoas como a renata frossard, a querida doula e, agora, amiga. não somente pelo trabalho que fez comigo, mas que faz com outras mães, tornando possível o sonho do parto natural. tornando esse momento tão delicado numa experiência única, feliz, marcante e intensa. também, pela iniciativa incrível do maternati, mostrando que tanto o parto ativo como a maternidade/paternidade ativa são perfeitamente possíveis e incentivadas.

pessoas como o dr rudey, pela coragem e atitude de "ir contra a maré", sendo a luzinha no fim do túnel pra quem não deseja colaborar com o trágico cenário da obstetricia nacional. pelo trabalho sério, respaldado por evidências científicas, pelo respeito à gestante, pela liberdade e capacidade.

pessoas como as que recheiam os grupos "parto natural", "cesária? não, obrigada" e "crias nossas" (azíndias, as naturebas, as xiitas, como queira chamá-las). mulheres que ocupam seu (raro) tempo livre para amparar, ajudar, alertar, discutir e dividir alegrias e agruras. sem ganhar nada (um insulto, às vezes... hahah), sem cobrar nada. pelo simples prazer de passar pra frente o bichinho do ativismo.

e, finalmente, pessoas como o moisa. que embarcam no sonho da esposa, que se abre, assume, respeita, debate, aprende junto. que apoia, confia, te da cobertura e segurança. porque um dos pilares que me manteve em pé durante todo o processo foi a certeza que a mão dele estava todo o momento ali, pra me segurar.
o parto é sim fisiológico, mas boa parte dele acontece entre as orelhas.
outra parte só acontece se houver paz. exterior e interior.
sorte a minha ter alguém como ele pra me proporcionar isso.

:)