até então estávamos só eu, a renata, o médico e uma enfermeira (acho?).
o bebê veio pro meu colo.
eu o sentia quentinho, desajeitado, com um pouco de sangue e vérnix. fazia um barulhinho lindo, ahuuu ahuuu ahuuu ahuuu, como se estivesse reclamando.
eu não lembro o que disse a ele, o que eu fiz. só lembro de senti-lo.
jamais esquecerei a sensação.
senti a placenta ser expelida.
acabou.
tive uma laceração, permiti sutura.
levaram o bebê pro berçário e foi aí que meu corpo se entregou.
senti muita fraqueza, tremia incontrolavelmente, mal conseguia abrir os olhos.
me vestiram, me colocaram numa maca e me levaram pra um apartamento.
(lembra da história de esperar vagar um apartamento, etc?)
era um cansaço extremo.
pudera, tamanho o esforço físico das últimas horas.
quando fiquei sozinha, chorei.
solucei novamente, mas agora de felicidade. minha voz não saía, mas eu pensava: "consegui... consegui..."
autran nasceu dia 26 de julho de 2013, às 13h50.
com 3,5kg e 50cm.
após 40 semanas e 5 dias vivendo dentro de mim.
autran nasceu de parto natural hospitalar.
sem anestesia.
sem hormônio sintético.
sem corte (episiotomia).
sem nada que não fosse natural, produzido pelo meu corpo.
autran nasceu depois de uma cesariana.
também conhecido como VBAC (vaginal birth after c-section), derrubando o mito de que não se pode ter um parto normal depois de uma cesárea.
autran nasceu depois de 31 horas de bolsa rota.
num trabalho de parto que durou 16 horas.
autran nasceu com respeito ao seu tempo, ao meu tempo.
e nada disso seria possível se não fossem pessoas.
pessoas como a francy borges, a primeira a quem pedi ajuda. foi a francy que me alertou sobre a situação obtétrica de maringá, que me pôs imediatamente em grupos de discussão no facebook, me abriu portas, me tirou definitivamente da matrix. foi a francy a "culpada" de tudo. se não fosse ela, não sei se teria coletado o tanto de infomação que coletei na gravidez.
pessoas como a renata frossard, a querida doula e, agora, amiga. não somente pelo trabalho que fez comigo, mas que faz com outras mães, tornando possível o sonho do parto natural. tornando esse momento tão delicado numa experiência única, feliz, marcante e intensa. também, pela iniciativa incrível do maternati, mostrando que tanto o parto ativo como a maternidade/paternidade ativa são perfeitamente possíveis e incentivadas.
pessoas como o dr rudey, pela coragem e atitude de "ir contra a maré", sendo a luzinha no fim do túnel pra quem não deseja colaborar com o trágico cenário da obstetricia nacional. pelo trabalho sério, respaldado por evidências científicas, pelo respeito à gestante, pela liberdade e capacidade.
pessoas como as que recheiam os grupos "parto natural", "cesária? não, obrigada" e "crias nossas" (azíndias, as naturebas, as xiitas, como queira chamá-las). mulheres que ocupam seu (raro) tempo livre para amparar, ajudar, alertar, discutir e dividir alegrias e agruras. sem ganhar nada (um insulto, às vezes... hahah), sem cobrar nada. pelo simples prazer de passar pra frente o bichinho do ativismo.
e, finalmente, pessoas como o moisa. que embarcam no sonho da esposa, que se abre, assume, respeita, debate, aprende junto. que apoia, confia, te da cobertura e segurança. porque um dos pilares que me manteve em pé durante todo o processo foi a certeza que a mão dele estava todo o momento ali, pra me segurar.
o parto é sim fisiológico, mas boa parte dele acontece entre as orelhas.
outra parte só acontece se houver paz. exterior e interior.
sorte a minha ter alguém como ele pra me proporcionar isso.
:)