com a luana, eu fui uma mãezinha típica. aquela que segue todos os conselhos vindos de todos os lados. aquela que não acreditava no próprio instinto. que não acreditava na força do próprio corpo, ou na força do corpo da criança.
dizem que o primeiro filho é um sobrevivente, e é mesmo.
luana sobreviveu à minha inaptidão, desinformação, passividade e inexperiência.
o tempo vai passando e você vê que poderia ter sido diferente, se você tivesse o mínimo de informação.
foi nesse sentido que eu comecei a rever todos os meus passos como mãe, desde o nascimento da minha filha. e constatei: o erro estava no começo, no parto. o resto foi consequência.
luana nasceu através de uma cesariana.
seria eletiva (marcada com antecedência), se ela não tivesse dito "opa! que história é essa? quem manda aqui sou eu!". o parto foi adiantado por algumas horas, o que seria na segunda-feira pela manhã - por conveniência - acabou acontecendo no domingo a noite. luana nasceu linda, saudável, rosadinha, cabeluda, fazendo cara azeda pelo susto e pelo choque de sair do quentinho.
eu? eu estava lá, imóvel, passiva, dopada, tentando entender o que se passava naquele momento, sem nenhuma noção do que viria depois - como minha filha, que tinha acabado de nascer. foi tudo filmado e fotografado. tal qual um evento.
um evento que eu não participei conscientemente. estava ali, mas não estava. os protagonistas (mãe e bebê) à mercê de mãos estéreis. sendo cruel e realista, éramos fantoches.
e esse momento, esse primeiro encontro meu com minha filha, momento que deveria ser nosso, só nosso, eu sinto que me foi tirado.
deixei me levar por medo de encarar o desconhecido, medo da dor, medo de morrer, medo atrás de medo. vítima da cultura do medo? pode-se dizer que sim.
e esse sentimento de ser incapaz me tomou por boa parte da minha maternidade. por isso tomei muitas decisões que não tomaria, se tivesse uma pequena convicção ou confiança em mim mesma.
se tivesse me empoderado...
é por isso que eu quero mudar essa história. é por isso que agora, na segunda gestação, eu estou correndo contra o tempo atrás de um médico que assista meu parto natural. é por isso que agora eu quero ser protagonista do parto do meu filho, que ele nasça como deve nascer: sem intervenções, sem cortes, sem química. com dor, gritos, urros, com os hormônios a flor da pele, delirando na partolândia. e no final, tremer de amor.
eu não sou "louca", nem "vou desistir na primeira contração", não vão "me cortar de qualquer jeito". isso não vai acontecer. eu confio em mim, na minha natureza, na minha fisiologia, no meu psicológico. nesses meses que se passaram, eu devorei tudo a respeito e de repente a leoa dentro de mim acordou.
acreditar que sou perfeitamente capaz de parir meu filho sem intervenção é apenas o primeiro passo pra uma maternidade segura e intensa.
e a luana?
espero que ela me perdoe pela imaturidade dos anos que se passaram.
o lado bom é que ela agora tem uma mãe empoderada, prontinha pra brigar com o mundo pra defendê-la do que for preciso.
:)
(...) a culpa não é sua, é dessa sociedade doente em que a gente vive!
em que a mãe é a pior das pessoas porque se não tiver o obstetra pra "fazer" o parto, o neonatologista pra avaliar o bebê, o pediatra pra acompanhar se tá crescendo saudável, o neuro pra garantir que tá desenvolvendo direito, a fisio pra estimular motricidade, a fono pra ajudar a falar, a nutricionista pra ensinar a comer, a professora pra desfraldar, especialista pra ensinar como tem que colocar pra dormir, a super nanny pra ensinar a colocar limites o bebê não cresce, não anda, não fala, deve virar um vegetal, né?! deve morrer! porque instinto de mãe não conta pra nada!
parece que se ela for deixada sozinha ela simplesmente vai ferrar com a vida do filho! não é à toa que temos uma competição tão grande entre as mães. somos muito cobradas pela sociedade e muito desmerecidas! é difícil de ver porque tem essa camuflagem de "mãe é tudo", mas na prática as mães são muito desmerecidas e vivemos com medo de ter prejudicado nosso próprio bebê.
stheffany nering (com permissão)
lívia · 620 weeks ago
passei minha gestação inteira ouvindo que era "louca" por desejar um parto natural.. passei por 4 médicos até encontrar um que bancasse a minha decisão.
tive um trabalho de parto BEM difícil, e no fim das contas (12 horas de trabalho de parto ativo e 2 horas de expulsivo) tive que passar por uma episiotomia... fizemos o possível, não deu, mas isso tudo só aumentou meu desejo por um parto natural... fica pra próxima!
boa sorte! bjs!
amandovski 78p · 620 weeks ago
a única coisa que posso contar é com a minha confiança, que eu não sei de onde eu estou tirando.
eu confio em mim.
vai dar tudo certo.
;)
marina · 620 weeks ago
Que seu filho chegue como deseja, agora que conseguiu seu "poder".
Tenho 29 anos, pretendo engravidar daqui uns 3, não posso ter parto normal em decorrência de um acidente. Tenho medo, pavor, em não estar "ali" quando meu filho nascer. Ainda hoje, a cesárea é tão horrível quanto o nome? Como foi sua recuperação/pós parto?
Obrigada!
bjs
amandovski 78p · 620 weeks ago
é apenas uma cirurgia. e como qualquer cirurgia, está cada vez mais moderna e contando com recursos pra agilizá-la e facilitá-la. você pode até ir atrás de fotos, ou de gente que fez cesárias há 10, 20 e 30 anos: o corte está cada vez menor.
há relatos de mulheres que tiveram uma recuperação rápida e sem problemas, há aquelas que tiveram tantos problemas que tiveram que voltar ao hospital e se encherem de remédios. risco que se corre em qualquer outra cirurgia.
minha bronca é: pra quê cesária se eu tenho perfeita capacidade de ter normal? me encheram de morfina e eu só lembro de flashes do nascimento da luana. isso me entristece um pouco.
mas veja, foi MINHA cesária. a sua pode ser completamente diferente.
sobre a recuperação, eu posso te contar via e-mail.
;)
Julia Brunken · 620 weeks ago
Com minha mãe foi quase a mesma coisa: meu irmão (primogênito) nasceu prematuro e de última hora ela teve que ficar um tempo de cama no Rio...por isso que ele nasceu carioca, até porque naquela época meus pais moravam em Recife. Enfim. Mamãe queria que fosse parto normal, mas ~devido às complicações~ teve que ser cesárea.
Nem no meu parto pôde ser natural, porque eu fiz o cordão umbilical de cachecol e acabou que ele estava enrolado no meu pescoço com uns 3 nós XD aí, teve que ser cesárea.
Mas espero tudo do bom e do boníssimo para seu parto! Força na musculatura, aí! :D
amandovski 78p · 620 weeks ago
eu entendo que há casos que só a cesariana salva vida de mãe e filho, e que nesses casos ela é muito bem-vinda. mas veja, há indicações reais e fictícias de cesariana, e o que acontece é que a grande maioria dos casos é fictícia ( http://ow.ly/lfndP ).
eu não julgo mal quem escolhe cesariana.
só acho que se ouvesse mais informação, humanização do atendimento e consciência dos médicos, muitas histórias poderiam ser contadas de uma forma diferente.
;)
Glory Box · 620 weeks ago
Mas enfim, sensacional seu post! você já tá super informada, mas caso não tenha lido nada sobre ainda, procure por artigos ou livros que falem sobre psiquismo fetal, é fantástico e vai te dar ainda mais força pra seguir essa sua vontade. Aliás, tem um programa incrível no canal GNT que fala sobre o parto natural pelo mundo.
Recomendo :)
amandovski 78p · 620 weeks ago
que bom que você gostou do post!
estava há tempos querendo escrevê-lo, mas faltavam palavras, coragem e até segurança. acho que foi na hora certa ;)
ainda não li muito profundamente sobre o psiquismo fetal, fiquei tão focada nas coisas que acontecerão com meu corpo, pra que eu não me assuste na hora, que nem lembrei de ler sobre o bebê! haha obrigada pelo toque!
e o programa "parto pelo mundo" eu estou assistindo pela internet, quando posso. é realmente sensacional.
faço parte de alguns grupos de mães/gestantes/tentantes que defendem o PN e todas elas ficam se derretendo com o programa hahaha
beijos :)