e o plus é essa foto, tirada esse final de semana:
acho que daria pra guardar a luana dentro desse algodão-doce ~nham~
fui andando devagar até a ultra. subi pela rua galiano. comi um pão com croquete e bebi um refresco aguado numa barraquinha do governo. dizem que há epidemia de conjutivite, hepatite e não sei o que mais. fecharam as barracas dos particulares. o verão esta terrível. sol ardente e umidade. os micróbios pulam de felicidade e procriam. todo mundo com diarréia, amebas, giárdias. ah, o trópico! lindo para se vir visitar por uma semana e admirar o crepúsculo de um ponto distante e silencioso, sem se misturar muito.
se eu ficasse louca tudo isso seria o quê? pra onde iriam os materiais e as pessoas e o amor? e se eu ficasse louca? quem iria me ver babar num canto de um hospital? existe louco em casa? mãe ama os loucos? louco tem amigo? louco tem livro plastificado? louco começa e não para mais até acabar? louco uma vez, louca pra sempre?
converse. respire. pense em garotos. pense em xampus. vamos. não fique louca. mude de assunto. pense na menina mais bonita do mundo e odeie. dê nome pra loucura que ela deixa de ser. sinta dor com nome que assusta menos. caia na aula de educação física, rale o joelho, sangre, dói menos. desembarace os cabelos e sinta que problemas se alisam. faça o papel do bis virar um barquinho. isso. conte uma piada. se os outros rirem bastante. se a sua estranheza puder ser amada.
qualquer coisa menos loucura.
não conheço nenhuma evinha do pó
nem vendo droga
também não fui presa na riachuelo
foi sim na santos andrade
eu tava passando mal
me sentei ali na calçada
não tinha droga comigo não senhor
chegou um tira
foi logo me apertando a garganta
caí de costas sem sentido
acordei peladinha e descalça no meio da rua
eles falaram pra me acalmar
eram só de conversa
daí o chefia disse que tava presa
botou pulseira me trouxe pra cá
bateram com raiva lá na praça
pra que eu apontasse a tal evinha
não mexo com droga não quero saber
falaram que ia ficar presa
ja tive outro processo mas fui solta
agora não me livro assim fácil
o juiz é da condena
uma capa preta da mesma cor do coração
nunca lidei com pó e pedra não senhor
to grávida de sete pra oito meses
mas não posso ter parto normal só cesariana
da última vez que fiquei na cadeia
o bebê morreu na barriga
judiação
o tadinho passou da hora de nascer.
- voce não... mammy, tenho medo que...
- pensei nisso, na noite em que recebi a noticia - disse-lhe a mãe - não se vou mentir para você. e continuo pensando nisso. mas, não, não se preocupe, laila. quero ver o sonho dos meus filhos se tornar realidade. quero ver o dia em que os soviéticos vão voltar para casa derrotados, o dia em que os mujahedins vão entrar em cabul, vitoriosos. quero estar aqui quando isso acontecer, quando o afeganistão voltar a ser livre, pois assim os meninos vão ver isso tambem. vão ver essas cenas através dos meus olhos.
logo depois, mammy pegou no sono, deixando laila dominada por emoções conflitantes: por um lado, o alívio de saber que a mãe pretendia continuar viva; por outro, a dor de saber que não era por SUA causa.
nunca deixaria a sua marca no coração de mammy, como seus irmãos tinham deixado, porque aquele coração era uma espécie de praia desbotada onde as pegadas da menina seriam sempre apagada pelas ondas de tristeza que se erguiam e quebravam, se erguiam e quebravam.
no fundo, ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. e isso um lar perplexamente lhe dera. por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. o homem com quem se casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha - com persistência, continuidade e alegria. o que sucedera a ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. assim ela o quisera e o escolhera.
hoje em dia a tendência é banda cover de música ruim. barrigudinhos de 30 anos que não viveram adolescência, tentam recuperar tempo perdido. adolescente difusos pegam nostalgia emprestada - zumbis de olhar ermo, mendigando sentido.
sabe aquela música do bob dylan, "people are crazy and times are strange"? não chego a ficar raivoso como antes. voce deve se lembrar como eu era, chico. hoje só consigo sentir vazio e pena.
uma enorme pena de todos nós.
dos coroas filtrando o chope dentro de suas enormes barrigas, das moças e marombados feitos de lycra, dos chatos da estação botafogo, das minicelebridades da internet compartilhando solidão em diários insossos, da galera se esgoelando ao som da novidade de 20 anos atrás, dos velhos jornalistas e sua boêmia enlatada, dos novos jornalistas, sem sonho ou estofo, e dos jovens e velhos escritores, compulsivos, mascando palavras e mascarando vaidades.
conservamos nossa felicidade
em um pote de cerejas.
continuamos fazendo essas perguntas
cirúrgicas.
gostaria de responder, se pudesse.
poderia escolher outra vez.
viver em pedacinhos
em pequenas doses de
cefaléia.
viver
devagar...
centopéias.