8 de fev. de 2015

i'll get though becoming you.


difícil escrever qualquer coisa depois do último post.
não queria parecer fria e fingir que nada aconteceu, mas também não queria trazer o assunto a tona. deixei o tempo passar, e passou até demais.
tanta coisa acontecendo, tanta coisa rolando e eu não sabendo nem por onde começar. é assim que a gente perde a mão num blog. de repente nada serve pra virar post, mesmo a gente sabendo que poderia virar. é costume mesmo, hábito.


procurei muito entender o mix de emoções que senti durante o velório do meu pai e percebi que aquela era minha forma de luto.
senti muita raiva e vontade de gritar pra todo mundo ir embora. senti muito ódio naquelas horas. não queria que me tocassem, não queria que me abraçassem, que me consolassem. queria ficar sozinha. me escondia onde era possível. agia de forma estranha pra encerrar conversas. fui grossa, fui estúpida, deixei pessoas falando sozinhas. estava constrangida por tudo aquilo. sempre achei velórios uma coisa bizarra, e entendo que pra algumas pessoas seja necessário, que é uma forma de despedida. mas pra mim não. nunca vou conseguir perdoar (quem?) que a última imagem que tenho do meu pai seja cheirando flores, rígido, num caixão. aquele não era meu pai. meu pai cheirava cigarro, sorria suave e viva com o olhar doce e perdido. foi mentalizando essa imagem que 'me despedi' dele, deitada na cama que foi dele. uma conversa telepática que nunca teríamos se ele estivesse na minha frente. porque meu pai entendia meus silêncios, a minha dificuldade de expressar-me. porém, o cortejo foi estranho e bonito, todo mundo cantando baixinho "como é grande o meu amor por você". puxado pela voz e violão de um amigo de longa data e companheiro de banda do meu pai. foi emocionante. se não fosse a circunstância trágica, filmaria.
erguendo a cabeça, corpo e mente, saímos numa viagem que há anos planejávamos.

procurei muito uma expressão pra ilustrar o que foi o final o ano e só consigo pensar em bittersweet.
nunca aconteceu de viajarmos todos juntos, eu, mãe e minhas irmãs. passamos os últimos dias de 2014 na praia, enchendo a barriga de comida, morgando e tendo maratonas de once upon a time. fazia 7 anos desde a última vez que pus os pés no mar. autran não conhecia. foi bonito, foi gostoso. precisávamos.

procurei muito manter um ritmo desde que voltei pra casa e reconheci minha dificuldade com rotinas.
mais de trinta dias longe de casa, sentei e olhei em volta diversas vezes esperando uma mágica que me fizesse ser enérgica, dinâmica, eficiente. na real espero essa mágica há uns vinte anos. ela nunca chegou. o que chegou foi a hora de lidar com o eu real. e o eu real é difícil de encarar. tanto que preferi sentar no sofá com a luana, com um pote de pipoca e uma cuia de tereré e ter deliciosas tardes regadas a rupaul's drag race. luana e eu vibramos cada vez que uma queen odiosa saía e vibramos o dobro quando ~spoiler alert~ jinkx e bianca venceram suas respectivas temporadas (eram nossas favoritas).



dois mil e quinze chegou e junto veio um toddler e uma preteen.
toddler é o bebê que anda, corre, grita, resmunga, chora, se joga no chão e desafia.
preteen é a pré-aborrescente que fala, fala, fala, fala, fala, reclama, vira os olhos, fala e reclama.

as fases mais intensas e que me exigem de formas tão distintas.
ás vezes é bastante frustrante, parece que nado contra corrente, que não saio do lugar. é aquele furacão diário, exigências mentais e corporais da hora que acordo a hora que vou dormir, e até durante o sono, vamos ser sinceros (cama compartilhada, oi!). os dias se atropelam e me engolem e de repente já é fevereiro.
no início de 2014 me senti do mesmo jeito e quando percebi, o ano acabou.
difícil olhar pra trás e ver que tanta coisa aconteceu, tão rápido, enquanto eu estive presente mas correndo o suficiente pra não me dar conta.

e aí que entra o lance de encarar o eu real.
o eu real é calmo, relaxado, gosta das pequenas coisas, os pequenos prazeres. como o tereré com pipoca e o reality show de drag queen com a filha mais velha. o eu real não liga pras coisas fora do lugar na estante da sala e no balcão da cozinha, não se importa muito que o piso está sujo ou que a roupa está no varal mais do que devia. o eu real para pra ver nuvens e ainda lê rótulos de desinfetante no banheiro. é devagar, é cabeça de borboleta.
mas na minha (não)rotina atual, não existe espaço pra isso. sentar e relaxar depois do almoço culmina em louça sem lavar e uma montanha acumulada pra próxima refeição que atrasa tudo em uma hora. a roupa suja acumula, a sujeira acumula, as fraldas, os brinquedos pela casa, os compromissos. e ao tentar cuidar de tudo, eu não cuido de nada.
vem um colapso.
vem um choque.

aprender a lidar com esses dois extremos tem sido doloroso.
mas tudo que é doloroso é recompensador.

voltarei pra contar.