10 de nov. de 2013

sobre despersonalização e prazos.

o ano ainda não acabou. ainda é cedo pra fazer um balanço geral - aquele clichê adorável dos blogs -, e eu não o farei. mas me sinto no direito de fazer alguns comentários.
esta é a quinta noite (consecutiva, houve outras aleatórias) que eu atravesso acordada por um motivo chamado: relatório de estágio.
o mesmo estágio que me arrancou lágrimas no primeiro semestre, que me fazia ir dormir às 2 da manhã e acordar às 6h, que me fazia correr pra cima e pra baixo com uma barriga de 8 meses de gravidez, que me fez passar tardes inteiras escaneando reportagens, montando atividades, planos de aula, enquanto minhas pernas inchavam cada vez mais, pedindo uma caminhadinha, um descanso, uma atenção extra e um copo de água a mais; enquanto minha pressão estava nas alturas pedindo calma, repouso e tranquilidade. eu não tinha nada disso. tinha era tensão, nervosismo, choro contido.

a regência acabou.
autran nasceu.

saí do mundo "universitária" pro mundo "puerpéria".
dias e noites de tensão, nervosismo, choro contido de um cansaço extremo de um bebê adorável que exigia muito mais do que eu pudesse imaginar.

autran cresceu.
minha licença acabou.

voltei pra universidade, ainda com um pé e meio no mundo "puerpéria" (minha teoria é que só saímos desse mundo depois do 6º mês). mas a universidade exige os dois pés no seu mundo. e um terceiro, se você puder oferecer.
os prazos indo igual enxurrada.
o relatório foi iniciado quando deveria estar sendo finalizado.

por isso não durmo.
por isso sinto constantes dores nas costas e nos olhos.
por isso pareço estar tão irritada, esquecida, lenta.

esta semana foi especialmente difícil pela ausência do moisa. uma viagem por causa do trabalho e 3 dias que pareceram três meses com nosso caçula me lembrando das prioridades da vida, com a nossa primogênita me lembrando que pré-adolescentes são aquele furacão emocional.

num desses dias, enquanto eu me afundava em fichamentos, xerox do ano passado, anotações do caderno e teoria que eu ainda não compreendi, ouvi os passarinhos cantando. eu estava há 3 dias vendo o sol nascer, mas só naquele dia ouvi os passarinhos cantando no alvorecer.
parei o que fazia pra olhar pela janela da lavanderia.

fui no quarto e vi o autran dormindo.
e me lembrei que ele é um bebê exigente sim, mas também é um bebê lindo, saudável, cativante e o maior motivo das minhas gargalhadas diárias. ele faz eu perder a hora pra tudo sim, mas tem um olhar capaz de me fazer perder a vida apenas contemplando. autran é o primeiro sorriso que eu vejo ao acordar, o sorriso de quem ainda não aprendeu o que é fingimento ou cinismo. o mais puro de todos.

fui no quarto e vi a luana dormindo.
é, ela é uma pré-adolescente. avoada, esquecida, preguiçosa. mas todo pré-adolescente é assim. seu diferencial é ser a mesma menina meiga, doce, carinhosa e educada de sempre. luana é uma menina virando moça a olho nu, é minha princesa, meu docinho, minha florzinha. é a menina que diz todos os dias o quanto me ama, que sou inteligente, que sou bonita. ainda é aquela admiração sincera que não quer nada em troca. ela fala porque quer que eu me sinta amada, do jeito que eu a faço sentir.

lembrei do moisa, longe de mim.
e lembrei que quando ele não está perto, eu desmorono muito fácil. aquela coisa todo do alicerce, sabe?

o que eu senti foi tão intenso, que até fiz um vídeo uns dias depois, pra nunca me esquecer.



e pela primeira vez, depois de meses, quase um ano praticamente, de ter enfiado um papel em um pote cheio de xixi no banheiro de casa, eu senti vontade de fumar.
uma vontade louca. genuína. quase sentia o gosto da fumaça passando pela garganta. eu sentindo ela seca. engolindo saliva. aquela leve tontura que sentimos no primeiro trago pela manhã. e o alivio.
naquela alvorada fresca, sozinha, eu senti vontade de fumar.
de soltar toda a tensão na forma de fumaça.


eu sei que isso tudo logo vai passar.
o autran me ensinou o real significado da palavra "entrega". quanto maior a entrega, melhor o resultado, maior o reconhecimento, mais rápida as rédeas de volta.
no momento não estou sendo eu, estou sendo "relatório de estágio".

e eu sei que o desfecho disso vai ser um choro compulsivo com sabor de vitória.
e aprovação, claro.


ps - não creio que meu orientador esteja lendo isso (tenho ele como amigo no facebook), mas se estiver, peço por gentileza, que agregue este texto à nota final (heh)