quando eu abri a janela da cozinha esta manhã, eu sorri por não estar chovendo. era só o que me faltava: chover justo no dia em que eu faria o exame prático do detran. o tempo estava fechado, fazia frio o suficiente pra um moleton leve. às 8h10 eu já estava chaveando a bicicleta em frente a ciretran daqui, com um cigarro no canto da boca, ainda rezando baixinho pra não chover.
entrei. sentei. esperei. passei a digital. esperei.
evitava olhar pra cara de aflição da galera que tava na mesma situação que eu. também evitava conversar, porque percebia que o única assunto ali eram as cagadas durante as provas, as reprovações absurdas, já é a terceira vez que eu faço. eu me mantinha calma e minha única preocupação era não chover. por causa da prova, e porque eu estava sem guarda-chuva.
chamaram meu nome e o de mais duas pessoas. seguimos pro pátio.
comigo estava uma menina bem nova, uns 18 ou 19 anos, e um senhor já de idade. e a avaliadora: uma moça, provavelmente, mais nova que eu e de legging justíssima.
fui a primeira a fazer a baliza. havia treinado bastante isso. pra mim não era problema. fiz certinho, como fazia nas aulas. sem pressa, sem susto, sem erro. desci do carro, era a vez da mocinha bem nova. nessa hora, começou uma garoa bem fina e eu tremi.
a mocinha entrou errado, não ligou a seta, deixou o carro morrer, bateu no prototipo. desceu do carro, pegou a bolsa e foi direto pro portão de saída. enquanto ela fazia tudo isso, o senhor do meu lado dizia que dirigia há 40 anos, mas ficava tão nervoso na hora da prova que não conseguia passar. já era a quinta vez que fazia.
quando chegou a vez dele, não conseguiu fazer tudo que tem de ser feito no tempo determinado. quando o vi dizendo com cara de choro pra avaliadora que ele não sabe o que acontece porque na rua ele consegue fazer direitinho, eu senti um aperto e as pernas tremerem pela primeira vez. pelo menos a garoa fina havia parado.
a avaliadora me chamou, entrei de volta no carro e fiz todo o ritual que deve ser feito: banco, espelhos, cinto, liga o carro, engata marcha, solta freio de mão. foi.
antes de sair do pátio, ela disse "direita" e eu me dei conta: estava sem meu anel no polegar direito.
mini-flashback: eu tenho um problema sério com direta/esquerda. sério mesmo. quando eu estou tensa, o problema tende a ficar crítico. já haviam me falado pra usar uma pulseira, ou um relógio em um dos pulsos pra marcar, então eu usava sempre um anel no polegar direito pra marcar a mão direita, principalmente nas aulas práticas.
agora já era, tripliquei a concentração e falei em voz alta pra avaliadora, que estava calma até os dois colegas serem reprovados. acho que isso ajuda, sei lá. pra mim, ajudou. ela disse que detesta reprovar as pessoas, mas que tem que ser justa com todo mundo e blá blá blá. tentei não prestar atenção do que ela dizia e me atentar às placas, à direita é a mão que você escreve e tá com a unha do polegar doendo porque roeu demais nesse último final de semana.
um vira aqui, vira ali, e me dou de cara com um caminhão de lixo. a rua era estreita. ai meu deus. desvio, não esquecendo de ligar setas, etc. vira aqui, vira ali, vou pra avenida em reforma. apenas uma pista liberada. nessa hora eu disse, "pô, justo hoje, sacanagem!" minha noção de espaço não é lá muito apurada e eu morro de medo de bater a lateral do carro nos cones. mas foi tranquilo. e a moça falando que eu tava com "sorte" porque aconteceu "de tudo" na minha prova, que era bom pra ela que podia avaliar minha reação em "momentos de stress". poxa, estar sendo avaliada já era stress o suficiente.
mandou eu voltar pro pátio (já?). pediu pra eu estacionar. e eu quase bati o retrovisor numa pilastra. desliguei o carro e ela falou que eu fiz tudo perfeitamente (com a exceção de quase bater o retrovisor na pilastra) e estava aprovada.
chorei (mentira).
desci, abracei minha instrutora que estava esperando o resultado, agradeci, etc, etc.
nem acredito. parece que tirei 400 quilos das costas.
eu sei que é apenas o começo, que agora não tenho mais a capa do carro da autoescola me protegendo no trânsito, evitando buzinada nas costas, tendo a condescendência e compreensão de motoristas mais apressados.
mas o primeiro e gigante passo foi dado.
fuck yeah.