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29 de set. de 2016

the last days of the suicide kid.

i can see myself now
after all these suicide days and nights,
being wheeled out of one of those sterile rest homes
(of course, this is only if I get famous and lucky)
by a subnormal and bored nurse
there i am sitting upright in my wheelchair
almost blind, eyes rolling backward into the dark part of my skull
looking
for the mercy of death
isn’t it a lovely day, Mr. Bukowski?
oh, yeah, yeah
the children walk past and i don’t even exist
and lovely women walk by
with big hot hips
and warm buttocks and tight hot everything
praying to be loved
and I don’t even
exist
it’s the first sunlight we’ve had in 3 days,
Mr. Bukowski!

oh, yeah, yeah.
there i am sitting upright in my wheelchair,
myself whiter than this sheet of paper,
bloodless,
brain gone, gamble gone, me, Bukowski,
gone
isn’t it a lovely day, Mr. Bukowski?
oh, yeah, yeah
pissing in my pajamas, slop drooling out of
my mouth.
2 young schoolboys run by —
hey, did you see that old guy?
christ, yes, he made me sick!

after all the threats to do so
somebody else has committed suicide for me
at last.
the nurse stops the wheelchair, breaks a rose from a nearby bush,
puts it in my hand.
i don’t even know
what it is. it might as well be my pecker
for all the good
it does.

(charles bukowski)

31 de jan. de 2013

o amor nos tempos do coléra II.

era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.
(gabriel garcia marquéz)

19 de jan. de 2013

o amor nos tempos do coléra I.

acabavam de celebrar as bodas de ouro matrimoniais, e não sabiam viver um instante sequer um sem o outro, ou sem pensar um no outro, e o sabiam cada vez menos à medida que recrudescia a velhice. nem ele nem ela podiam dizer se essa servidão recíproca se fundava no amor ou na comodidade, mas nunca se haviam feito a pergunta com a mão no peito, porque ambos tinham sempre preferido ignorar a resposta .(...) mas se alguma coisa tinham aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.

(gabriel garcía marquez)

18 de dez. de 2012

born like this - into this II.


parte I
nós nascemos assim
dentro disso
dentro dessas cuidadosas guerras malucas
dentro do vazio de janelas de fábricas quebradas
dentro de bares onde as pessoas não conversam mais entre si
dentro de primeiras brigas que terminam em tiros e facadas

dentro disso
dentro de hospitais que são tão caros
que é mais barato morrer
dentro de advogados que cobram tanto
que é mais barato assumir a culpa
dentro de países onde as cadeias estão cheias
e os sanatórios fechados
dentro de lugares onde a massa transforma
idiotas em ricos heróis.

nós nascemos dentro disso
caminhando e vivendo em meio a isso
morrendo por isso
mudo por isso
castrado
corrompido
deserdado
(charles bukowski)

13 de nov. de 2012

as moscas.

egisto
eu não tenho segredos

júpiter
tens. o mesmo que eu. o doloroso segredo dos deuses e dos reis: é que os homens são livres. são livres, egisto. tu sabe-lo; eles é que não.
(jean-paul sartre)

28 de out. de 2012

a mão e luva.

de quantos homens a moça tratara até ali, era o primeiro que lhe inspirava curiosidade, e também, naquela ocasião, a primeira pessoa que se compadecia dela. veja o leitor: - curiosidade e gratidão; - veja se há duas asas mais próprias para arrojar uma alma no seio de outra alma, - ou de um abismo, que é às vezes a mesma coisa.
(machado de assis)

24 de set. de 2012

eu não nasci de óculos.


estilo é um troço que você escolha da noite pro dia. não há um momento x no despertar da mocidade em que seus pais lhe convoquem, acompanhados pelo rabino, o padre ou o pastor, mais um colegiado de anciãos, e perguntem: "então, cria minha, chegou a hora: serás punk? yuppie? almofadinha? pit boy? mano? intelectual com a barba por fazer? ou crente de terninho bege?"

estilo é o resultado de milhares de microdecisões tomadas (ou não tomadas) ao longo de muitos anos, escolhas que vão aos poucos definindo desde a postura dos nossos ombros até a cor das nossas meias. por isso, como descobri na semana passada, após duas horas penando numa ótica, é tão difícil comprar uma armação de óculos: pois ali você tem que decidir, no ato - ou ao menos, vá lá, revelar a si mesmo -, quem você é.

comecei pelos mais discretos. armações finas, prateadas ou pretas, com fio de nylon na parte de baixo das lentes. pareciam ok. afinal, eu não queria uns óculos com proposta, queria? não. não queria óculos que fizessem com que, digamos, um frentista perguntasse pro outro "de quem é o troco, lima?", e ouvisse como resposta, "do artista, ali", ou "do john lennon, ali", ou "do cara que pegou os óculos do avô, ali". realmente, os mais discretos me caíam bem. no entanto, pareciam tão sem graça...

por curiosidade, experimentei um daqueles oclões de acetato preto. gostei do que vi, mas, ao mesmo tempo, me senti uma fraude. aquelas armações vendiam um homem mais moderno do que eu. mais antenado. imaginei-me indo à padaria, uma equipe de tv me aborda: "o que você achou do último filme do sokurov?". sokurov? não, amigo, eu só tava indo comprar pão.

do acetato preto, migrei para a armação de tartaruga: uma proposta vistosa, também, embora um tantinho mais conservadora. novamente, me senti em dívida. óculos de tartaruga são para quem já leu pelo menos metade da obra de proust, para quem tem a cultura na memória 1 do rádio do carro. se estivesse com uns óculos daqueles e tocasse red hot chilli peppers, eu teria que fechar os vidros. não, não.

o problema, descobri então, perdido entre plásticos vermelhos e arames beges, é que duas forças lutavam por minha hegemonia: de um lado, queria óculos que não dissessem nada sobre mim, que fossem simples como um copo-d'água. de outro, queria, sim, colocar um gelo e limão em meu aspecto. por que não?

eu venho de um nicho, de um grupo, como qualquer pessoa. qual o problema de afirmar, nas curvas, na espessura, na cor e no material dos meus óculos, a visão de mundo que eu, consciente ou inconscientemente, endosso? sei lá, mas depois de duas horas olhando-me no espelho, acabei ficando com uma das primeiras armações, finas e discretas.

o que não deixa de ser, também, uma declaração de princípios. "de quem é o troco?", pergunta o frentista. "daquele cara ali que, por covardia, por timidez, por orgulho, até, quem sabe, não quer dizer nada com seus óculos." "boa observação, lima. cê devia largar o posto e fazer uma pós em semiótica, sabia?" "tô ligado. aqui o troco, chefia. quer que dê uma olhada no óleo?"
(antonioprata.folha@uol.com.br)

17 de set. de 2012

eu, o mais infiel.

isabel estava sentada na cama. esperando por mim. só de olhá-la tive uma ereção instantânea. eu continuava gostando dessa mulata. afinal de contas, que fidelidade posso exigir? o mais infiel dos mortais.
fechei a porta. tiramos a roupa devagar. então nos abraçamos e nos beijamos. bem apertados. meu coração acelerou e quase soltei uma lágrima. mas me contive. não posso chorar na frente desta desgraçada. penetrei bem devagar, acariciando-a, e ela já estava úmida e deliciosa. é como entrar no paraíso. mas também não disso isto. é melhor amá-la do meu jeito, em silêncio, sem que ela saiba.

(pedro juan gutiérrez)

21 de ago. de 2012

a vida sexual da mulher feia.

david ter juntado minha bolsa esfarrapada do chão foi o suficiente para eu perder o sono por ele. para eu persegui-lo no buffet, gastar uma fortuna em táxis, errar a contabilidade da empresa em que trabalhava, sonhar barbaridades a qualquer momento do dia, horário comercial incluído. alguém já disse que as mulheres não se apaixonam por uma pessoa, e sim pelo amor. eu arriscaria um adendo: e as mulheres feias não se apaixonam pelo amor, e sim por um fiapo de amor-próprio.
(claudia tajes)

24 de fev. de 2012

ficciones.

descubriemos (en alta noche esse descubrimiento es inevitable) que los espejos tienen algo monstruoso. entonces bioy casares recordó que uno de los heresiarcas de uqbar había declarado que los espejos y la cópula son abominables, porque multiplican el número de los hombres.

(jorge luis borges)

14 de jan. de 2012

dona anja.

o leão-de-chácara amâncio deixou de espiar pela janela e, enquanto acendia o palheiro oloroso, pensava nas maldades da natureza que afinal transformaram dona anja naquela grande mulher gorda, peitos como nádegas a pesarem sobre o ventre enorme e pregueado, plissado e enxundioso, a grande papada que ainda servia de escora para o rosto sobretudo belo, os lábios quase como os de antigamente, os negros olhos sombreados, pestanejando, os cabelos sedosos que ela ajeitava num coque relaxado, encimando a nuca transformada pelos anos em ouriço, em cachaço que por certo deveria estar perfumado e limpo. como antigamente, aliás.
vinte anos, um pouco menos, um pouco mais. o tempo ás vezes não conta, serve apenas de engodo ou de confissão. impiedoso quase sempre para aquelas mulheres que comem muito chocolate às escondidas, depois abertamente e que, sem mais aquela, sem desculpas e nem subterfúgios, se deixam embalar pela gula desenfreada.
(josué guimarães)

16 de ago. de 2011

cem anos de solidão II.

então, pensou que gastón não era tão bobo quanto parecia, mas pelo contrário, era um homem de uma firmeza, uma habilidade e uma paciência infinitas, que se propusera a vencer a esposa pelo cansaço da eterna complacência, do nunca lhe dizer não, do simular um assentimento sem limites, deixando-a se enredar em sua própria teia de aranha, até o dia em que não pudesse mais suportar o tédio das ilusões ao alcance das mãos e ela mesma fizesse as malas para voltar à europa. a antiga piedade de aureliano se transformou numa aversão violenta.

(gabriel garcía márquez)

10 de ago. de 2011

cem anos de solidão.

comparou-a com a lembrança mais antiga que tinha dela, na tarde em que ele tivera o presságio de que uma panela de sopa fervendo ia cair da mesa, e a encontrou espedaçada. num instante descobriu os arranhões, os vergões, os calos, as úlceras e as cicatrizes que deixara nela mais de meio século de vida cotidiana e comprovou que estes estragos não provocavam nele sequer um sentimento de piedade. fez então um último esforço para procurar no seu coração o lugar onde se haviam apodrecido os afetos e não conseguiu encontrá-lo.

(gabriel garcía márquez)

6 de abr. de 2011

um coração ardente.

atos herdou de mim esse tipo de coração. gente assim ri mais, chora mais, odeia mais, ama mais... ama mais, principalmente isso. ama muito mais. é uma espécie de gente inflamável, que está sempre se queimando e se renovando sem parar. de onde nascem chamas tão altas? muitas vezes não há nenhuma acha de lenha para alimentar o fogo, de onde vem tamanho impulso? mistério. as pessoas param, fascinadas, em torno desse calor tão espontâneo e inocente, não? tão inocente. no entanto, tão perigoso.

(lygia fagundes telles)

18 de fev. de 2011

"beba muito, ou não prove da fonte de pierian"

pág. 72
minha paixão por giovanna foi totalmente induzida pelo álcool. mesmo estando tão bêbado a maior parte do tempo, eu ainda tinha consciência de que nada iria rolar entre nós dois. a razão principal para isto é o quanto era incrivelmente tedioso estar com ela se um de nós (ou, deus me perdoe, os dois) estivesse sóbrio. eu sei que existem muitos tipos diferentes de macarrão na itália. nao quer dizer que voce deva falar o tempo inteiro disso né? sim, claro, muito legal que façam macarrão em formato de orelha e chapéus. grande coisa. você já ouviu falar de algum enorme exército invadindo um castelo para se apoderar de um estoque escondido de pappardelle? imagino que não. mas os irlandeses vêm se matando uns aos outros há séculos por causa do whiskey.

pág. 75
ela chamou o câmera para ajudar a me colocar em um banco perto de uns mapas e um jogo de cartas com imagens de grandes escritores irlandeses que também eram beberrões. esses caras são como superastros na irlanda, o que mostra como o país é uma sociedade que tolera o vício. brendan behan uma vez se descreveu como "um beberrão com problemas com a escrita", e ensinam ele nas escolas daqui. britney spears toma uma cerveja e já queremos tomar os filhos dela.

(andrew gottlier)

3 de fev. de 2011

o evangelho segundo jesus cristo.

está visto que as pessoas não andam todas por aí a pedir milagres, cada um de nós, com o tempo, habitua-se às suas pequenas ou medianas mazelas e com elas vai vivendo sem que alguma vez lhe passe pela cabeça importunar os altos poderes, mas os pecados são outra coisa, os pecados atormentam por baixo do que se vê, não são perna coxa nem braço tolhido, não são lepra de fora mas lepra de dentro.

(josé saramago.)

30 de jun. de 2010

sabor a mí.

fui andando devagar até a ultra. subi pela rua galiano. comi um pão com croquete e bebi um refresco aguado numa barraquinha do governo. dizem que há epidemia de conjutivite, hepatite e não sei o que mais. fecharam as barracas dos particulares. o verão esta terrível. sol ardente e umidade. os micróbios pulam de felicidade e procriam. todo mundo com diarréia, amebas, giárdias. ah, o trópico! lindo para se vir visitar por uma semana e admirar o crepúsculo de um ponto distante e silencioso, sem se misturar muito.

(pedro juan gutiérrez.)

19 de jun. de 2010

louca.

se eu ficasse louca tudo isso seria o quê? pra onde iriam os materiais e as pessoas e o amor? e se eu ficasse louca? quem iria me ver babar num canto de um hospital? existe louco em casa? mãe ama os loucos? louco tem amigo? louco tem livro plastificado? louco começa e não para mais até acabar? louco uma vez, louca pra sempre?
converse. respire. pense em garotos. pense em xampus. vamos. não fique louca. mude de assunto. pense na menina mais bonita do mundo e odeie. dê nome pra loucura que ela deixa de ser. sinta dor com nome que assusta menos. caia na aula de educação física, rale o joelho, sangre, dói menos. desembarace os cabelos e sinta que problemas se alisam. faça o papel do bis virar um barquinho. isso. conte uma piada. se os outros rirem bastante. se a sua estranheza puder ser amada.
qualquer coisa menos loucura.

15 de jun. de 2010

não conheço a evinha

não conheço nenhuma evinha do pó
nem vendo droga
também não fui presa na riachuelo
foi sim na santos andrade
eu tava passando mal
me sentei ali na calçada
não tinha droga comigo não senhor
chegou um tira
foi logo me apertando a garganta
caí de costas sem sentido
acordei peladinha e descalça no meio da rua
eles falaram pra me acalmar
eram só de conversa
daí o chefia disse que tava presa
botou pulseira me trouxe pra cá
bateram com raiva lá na praça
pra que eu apontasse a tal evinha
não mexo com droga não quero saber
falaram que ia ficar presa
ja tive outro processo mas fui solta
agora não me livro assim fácil
o juiz é da condena
uma capa preta da mesma cor do coração
nunca lidei com pó e pedra não senhor
to grávida de sete pra oito meses
mas não posso ter parto normal só cesariana
da última vez que fiquei na cadeia
o bebê morreu na barriga
judiação
o tadinho passou da hora de nascer.

(dalton trevisan)

31 de mai. de 2010

cidade do sol.

- voce não... mammy, tenho medo que...
- pensei nisso, na noite em que recebi a noticia - disse-lhe a mãe - não se vou mentir para você. e continuo pensando nisso. mas, não, não se preocupe, laila. quero ver o sonho dos meus filhos se tornar realidade. quero ver o dia em que os soviéticos vão voltar para casa derrotados, o dia em que os mujahedins vão entrar em cabul, vitoriosos. quero estar aqui quando isso acontecer, quando o afeganistão voltar a ser livre, pois assim os meninos vão ver isso tambem. vão ver essas cenas através dos meus olhos.

logo depois, mammy pegou no sono, deixando laila dominada por emoções conflitantes: por um lado, o alívio de saber que a mãe pretendia continuar viva; por outro, a dor de saber que não era por SUA causa.
nunca deixaria a sua marca no coração de mammy, como seus irmãos tinham deixado, porque aquele coração era uma espécie de praia desbotada onde as pegadas da menina seriam sempre apagada pelas ondas de tristeza que se erguiam e quebravam, se erguiam e quebravam.

(khaled hosseini)