29 de mai. de 2013

da sala ao berçário.

tive minha primeira regência do estágio obrigatório ontem.
depois de semanas chorando em cima do computador, primeiro pra determinar um tema, depois pra entender como abordá-lo, depois pra distribuir o conteúdo, depois pra criar o conteúdo, depois enviar pro orientador, depois pra corrigir o que o orientador mandou corrigir e, finalmente, entrar na sala de aula.
a noite anterior foi um tormento.
sono leve, medo de perder a hora, frio na barriga... vai que não dá certo?

mas deu.
era a primeira aula. todo mundo sonolento, ainda acordando. alguns comemorando o fato de ser estagiário dando aula, "porque é mais legal".
conversa vai, conversa vem. garotos dispostos, participativos, piadas sem graça.
quando vi, a aula tinha acabado.
sobrevivi.

achei engraçado sentir todo esse medo, se durante todo o processo eu nunca senti medo de encarar a turma. fui sentir só no dia anterior. e ainda assim achei estranho, pois há dois anos ando enfrentando turmas periodicamente pra aplicar projetos. depois, descobri que o medo era por estar sozinha (os projetos eram em grupos), por estar sendo avaliada, por não poder falar "ah vá se ferrar, tá loco?" se me falassem alguma bobagem.

apesar de alguns erros no cálculo de tempo (sobraram 10 minutos, eu não sabia o que fazer, fui socorrida pela professora regente), o gás pro estágio só começou. o fato de estar tudo pronto e o único trabalho agora é imprimir os materiais me dá uma puta sensação de "dever cumprido". e ele fica maior ainda quando vejo a alegria na cara dos adolescentes remelentos quando acertam as questões das atividades.

cada vez que ouço bater o sinal e tenho que ir embora, eu tenho ainda mais certeza do meu lugar.
e ele não é numa sala de aula de mestrado.

***


desconfiando seriamente que esse é o motivo de serem queridos comigo

32 semanas e 3 dias.
na maioria das tabelas, o oitavo mês.

já começando a incluir itens bebezudo na compra do mercado. hoje comprei fraldas em promoção, bolas de algodão e fraldas RN.
andei lendo coisas interessantes sobre introdução alimentar. mas, claro, ainda é cedo pra pensar nisso.

é bem empolgante meio que "começar" do zero. os novos conhecimento sobre educação, sobre fisiologia, sobre psiquismo infantil tem ajudado muito. todo um novo modo de criação, de estímulo.
eu cheguei a me lamentar por ter que fazer tudo de novo, visto que a luana já está em uma fase bem definida e bem distante do irmão que vai chegar. ela sequer brinca mais. suas diversões são música, dança, leitura, novelas adolescentes no youtube. ela ainda tem pequenos resquícios infantis, mas a maior parte do tempo eu me vejo com uma moça em casa. é estranho acostumar com isso. mas vejam, agora que eu vi que tenho a oportunidade de fazer diferente, totalmente segura das minhas escolhas, eu agradeço por poder fazer tudo de novo.

é como fazer as pazes comigo mesmo.
a amanda mãe de ontem dando uma chance à amanda mãe de hoje.

21 de mai. de 2013

future butterfly.



everybody knows
you only live a day
but it's brilliant anyway

17 de mai. de 2013

bem-vinda ao mundo, mãe empoderada.

uma vez perguntaram, em um grupo de mães, quais seriam nossos epitáfios antes de ter filhos. eu pensei em milhares, mas minha resposta foi: "eu teria dois: um pra quando minha filha nasceu e outro pra quando eu engravidei novamente".

com a luana, eu fui uma mãezinha típica. aquela que segue todos os conselhos vindos de todos os lados. aquela que não acreditava no próprio instinto. que não acreditava na força do próprio corpo, ou na força do corpo da criança.
dizem que o primeiro filho é um sobrevivente, e é mesmo.
luana sobreviveu à minha inaptidão, desinformação, passividade e inexperiência.
o tempo vai passando e você vê que poderia ter sido diferente, se você tivesse o mínimo de informação.
foi nesse sentido que eu comecei a rever todos os meus passos como mãe, desde o nascimento da minha filha. e constatei: o erro estava no começo, no parto. o resto foi consequência.

luana nasceu através de uma cesariana.
seria eletiva (marcada com antecedência), se ela não tivesse dito "opa! que história é essa? quem manda aqui sou eu!". o parto foi adiantado por algumas horas, o que seria na segunda-feira pela manhã - por conveniência - acabou acontecendo no domingo a noite. luana nasceu linda, saudável, rosadinha, cabeluda, fazendo cara azeda pelo susto e pelo choque de sair do quentinho.
eu? eu estava lá, imóvel, passiva, dopada, tentando entender o que se passava naquele momento, sem nenhuma noção do que viria depois - como minha filha, que tinha acabado de nascer. foi tudo filmado e fotografado. tal qual um evento.
um evento que eu não participei conscientemente. estava ali, mas não estava. os protagonistas (mãe e bebê) à mercê de mãos estéreis. sendo cruel e realista, éramos fantoches.

e esse momento, esse primeiro encontro meu com minha filha, momento que deveria ser nosso, só nosso, eu sinto que me foi tirado.
deixei me levar por medo de encarar o desconhecido, medo da dor, medo de morrer, medo atrás de medo. vítima da cultura do medo? pode-se dizer que sim.
e esse sentimento de ser incapaz me tomou por boa parte da minha maternidade. por isso tomei muitas decisões que não tomaria, se tivesse uma pequena convicção ou confiança em mim mesma.
se tivesse me empoderado...

é por isso que eu quero mudar essa história. é por isso que agora, na segunda gestação, eu estou correndo contra o tempo atrás de um médico que assista meu parto natural. é por isso que agora eu quero ser protagonista do parto do meu filho, que ele nasça como deve nascer: sem intervenções, sem cortes, sem química. com dor, gritos, urros, com os hormônios a flor da pele, delirando na partolândia. e no final, tremer de amor.

eu não sou "louca", nem "vou desistir na primeira contração", não vão "me cortar de qualquer jeito". isso não vai acontecer. eu confio em mim, na minha natureza, na minha fisiologia, no meu psicológico. nesses meses que se passaram, eu devorei tudo a respeito e de repente a leoa dentro de mim acordou.
acreditar que sou perfeitamente capaz de parir meu filho sem intervenção é apenas o primeiro passo pra uma maternidade segura e intensa.

e a luana?
espero que ela me perdoe pela imaturidade dos anos que se passaram.
o lado bom é que ela agora tem uma mãe empoderada, prontinha pra brigar com o mundo pra defendê-la do que for preciso.
:)
(...) a culpa não é sua, é dessa sociedade doente em que a gente vive!
em que a mãe é a pior das pessoas porque se não tiver o obstetra pra "fazer" o parto, o neonatologista pra avaliar o bebê, o pediatra pra acompanhar se tá crescendo saudável, o neuro pra garantir que tá desenvolvendo direito, a fisio pra estimular motricidade, a fono pra ajudar a falar, a nutricionista pra ensinar a comer, a professora pra desfraldar, especialista pra ensinar como tem que colocar pra dormir, a super nanny pra ensinar a colocar limites o bebê não cresce, não anda, não fala, deve virar um vegetal, né?! deve morrer! porque instinto de mãe não conta pra nada!
parece que se ela for deixada sozinha ela simplesmente vai ferrar com a vida do filho! não é à toa que temos uma competição tão grande entre as mães. somos muito cobradas pela sociedade e muito desmerecidas! é difícil de ver porque tem essa camuflagem de "mãe é tudo", mas na prática as mães são muito desmerecidas e vivemos com medo de ter prejudicado nosso próprio bebê.


stheffany nering (com permissão)

5 de mai. de 2013

aquele fluxo de consciência.

enrolando e procrastinando como uma louca, corro pro reader.
esse eu negligencio de propósito, pra momentos como este; tem pilhas de livros esperando para serem fichados, mas eu tenho que ir ver tanto de post não lido no reader e colocar pelo menos alguns em dia. às vezes eu tenho a proeza de zerar, e tenho uma satisfação mentirosa de que, pelo menos isso, eu consigo manter em dia.
enganar a gente mesmo é muito fácil.

mas enfim, indo direto pros não lidos dos blogs favoritos, eu me deparei com esse. pra quem não sabe, lolla mora no UK há um bom tempo. gosto do seu blog pela sinceridade cortante, ótimas fotos e uma visão mais 'minha cara' das coisas.
o post em questão traz uma discussão que eu sempre evitei na internet: o choque cultural. a lolla da as impressões dela sobre as impressões de outra menina sobre londres.

ela toca em pontos que eu já cansei de falar em conversas com amigos, de que como alguns brasileiros adoram achar um horror alguns costumes/coisas/whatever em outros países, mas vai um gringo falar mal do brasil, vai... é tipo aquela coisa da pessoa que vive falando mal da irmã e daí quando você concorda e diz "é, sua irmã é meio folgada mesmo", a pessoa briga com você. ou de que como o povo sai do país e a primeira coisa que faz e ir correndo atrás de uma churrascaria. ou ficar choramingando de "saudade de um feijãozinho".
uma vez, vi no facebook uma menina que mora nos USA gastar sei lá quantos dólares em nescau, leite moça, milho pra pipoca zaeli e chocolate garoto, sendo que ela poderia comprar equivalentes americanos pelo terço do preço.
até entendo que esse saudosismo culinário é pelo o que tudo aquilo envolvia (uma pipoca achocolatada com as amigas, por exemplo) e não pelo sabor em si.

daí isso faz associação com outra coisa que me faz pensar quando leio posts/blogs assim. de como eu gostaria que existisse essa cultura digital quando eu morei fora.
tenho certeza que haveria posts idiotas dos quais eu morreria de vergonha e deletaria sem dó, mas eu adoraria poder falar pras pessoas sobre os banheiros japoneses, sobre o sistema de ônibus, a tolerância da sociedade com o vício de jogos de azar, a parte feia e fedida do japão, a parte melancólica, os campos de arroz no meio da cidade.
e também o outro lado, pois até hoje eu me lembro de olhar com estranheza as pessoas gastando mais do que deviam em comida nas lojas de produtos importados porque não queriam de forma alguma se desligar do brasil. daí compravam tudo importado: arroz, feijão, farofa, carne... tinha gente que sequer pisava num supermercado japonês. apenas esperava o caminhão dos brasileiros (um caminhão com a caçamba adaptada com prateleiras cheias de produtos vindos do brasil, um mercadinho ambulante) estacionar na frente do prédio e fazer a compra da semana.
a desculpa universal era o abismo linguístico, e de certa forma eu tenho que concordar. como diferenciar sabão líquido de amaciante? mas para isso tínhamos tradutores que ajudariam, pessoas experientes que faziam compras em mercados japoneses há décadas, amigos nativos que entendiam português.
pra tudo a gente dá um jeito, porque não daríamos nesse caso?

e eu não posso dizer que seria perder medo da identidade, porque morar no japão não foi, pra mim, um rompimento tão brusco assim. todos meus amigos eram brasileiros, eu só falava português; com algumas exceções, todos os meus colegas de trabalho eram brasileiros (e sempre tinha um tradutor). quando eu saía a noite, ia pra lugares feito por brasileiros, para brasileiros. isso que eu nem morava numa certa região que é a mais brasileira do japão. ouvia dizer que lá tinha até pastelarias e outdoors em português.

e essa enrolação toda é só pra comentar que quanto mais eu vejo "impressões" de alguém sobre algum lugar que não é seu local de nascimento e crescimento, mais eu percebo que, mesmo com o mundo globalizado, a cultura digital e o acesso instantâneo, a gente nunca vai ser cosmopolita.
esqueçam.
nunca.