14 de jan. de 2012

dona anja.

o leão-de-chácara amâncio deixou de espiar pela janela e, enquanto acendia o palheiro oloroso, pensava nas maldades da natureza que afinal transformaram dona anja naquela grande mulher gorda, peitos como nádegas a pesarem sobre o ventre enorme e pregueado, plissado e enxundioso, a grande papada que ainda servia de escora para o rosto sobretudo belo, os lábios quase como os de antigamente, os negros olhos sombreados, pestanejando, os cabelos sedosos que ela ajeitava num coque relaxado, encimando a nuca transformada pelos anos em ouriço, em cachaço que por certo deveria estar perfumado e limpo. como antigamente, aliás.
vinte anos, um pouco menos, um pouco mais. o tempo ás vezes não conta, serve apenas de engodo ou de confissão. impiedoso quase sempre para aquelas mulheres que comem muito chocolate às escondidas, depois abertamente e que, sem mais aquela, sem desculpas e nem subterfúgios, se deixam embalar pela gula desenfreada.
(josué guimarães)