29 de set. de 2012

home, sweet paper home.


veja essas coisas fofas feitas de papel; sou apaixonada, sabia?
tenho uma pasta que contém quilos de gigabytes de imagens e templates pra tudo que se imagina. tudo de papel. mil e duas ideias que ainda não pus em prática por: falta de espaço, falta de material, falta de ânimo.

hoje, cá estava eu organizando essa pasta em subpastas tipo pattern, para enquadrar, paper toy, etc, e me deparo com essa casinha, um dos primeiros layouts que eu salvei no computador. tipo a figurinha número um. achei uma pena ela ter ficado esquecida, pois é uma casinha pequena, simples, fácil de fazer e um enfeite bem simpático.
o problema: eu não tinha sulfite branco. imprimi em azul mesmo. as cores não saíram como deveriam, mas ficou gracioso da mesma forma.

quem tiver vontade de se aventurar, pega o modelo e mais ideias num dos blogs mais sensacionais nesse quesito: just something i made.

24 de set. de 2012

eu não nasci de óculos.


estilo é um troço que você escolha da noite pro dia. não há um momento x no despertar da mocidade em que seus pais lhe convoquem, acompanhados pelo rabino, o padre ou o pastor, mais um colegiado de anciãos, e perguntem: "então, cria minha, chegou a hora: serás punk? yuppie? almofadinha? pit boy? mano? intelectual com a barba por fazer? ou crente de terninho bege?"

estilo é o resultado de milhares de microdecisões tomadas (ou não tomadas) ao longo de muitos anos, escolhas que vão aos poucos definindo desde a postura dos nossos ombros até a cor das nossas meias. por isso, como descobri na semana passada, após duas horas penando numa ótica, é tão difícil comprar uma armação de óculos: pois ali você tem que decidir, no ato - ou ao menos, vá lá, revelar a si mesmo -, quem você é.

comecei pelos mais discretos. armações finas, prateadas ou pretas, com fio de nylon na parte de baixo das lentes. pareciam ok. afinal, eu não queria uns óculos com proposta, queria? não. não queria óculos que fizessem com que, digamos, um frentista perguntasse pro outro "de quem é o troco, lima?", e ouvisse como resposta, "do artista, ali", ou "do john lennon, ali", ou "do cara que pegou os óculos do avô, ali". realmente, os mais discretos me caíam bem. no entanto, pareciam tão sem graça...

por curiosidade, experimentei um daqueles oclões de acetato preto. gostei do que vi, mas, ao mesmo tempo, me senti uma fraude. aquelas armações vendiam um homem mais moderno do que eu. mais antenado. imaginei-me indo à padaria, uma equipe de tv me aborda: "o que você achou do último filme do sokurov?". sokurov? não, amigo, eu só tava indo comprar pão.

do acetato preto, migrei para a armação de tartaruga: uma proposta vistosa, também, embora um tantinho mais conservadora. novamente, me senti em dívida. óculos de tartaruga são para quem já leu pelo menos metade da obra de proust, para quem tem a cultura na memória 1 do rádio do carro. se estivesse com uns óculos daqueles e tocasse red hot chilli peppers, eu teria que fechar os vidros. não, não.

o problema, descobri então, perdido entre plásticos vermelhos e arames beges, é que duas forças lutavam por minha hegemonia: de um lado, queria óculos que não dissessem nada sobre mim, que fossem simples como um copo-d'água. de outro, queria, sim, colocar um gelo e limão em meu aspecto. por que não?

eu venho de um nicho, de um grupo, como qualquer pessoa. qual o problema de afirmar, nas curvas, na espessura, na cor e no material dos meus óculos, a visão de mundo que eu, consciente ou inconscientemente, endosso? sei lá, mas depois de duas horas olhando-me no espelho, acabei ficando com uma das primeiras armações, finas e discretas.

o que não deixa de ser, também, uma declaração de princípios. "de quem é o troco?", pergunta o frentista. "daquele cara ali que, por covardia, por timidez, por orgulho, até, quem sabe, não quer dizer nada com seus óculos." "boa observação, lima. cê devia largar o posto e fazer uma pós em semiótica, sabia?" "tô ligado. aqui o troco, chefia. quer que dê uma olhada no óleo?"
(antonioprata.folha@uol.com.br)

22 de set. de 2012

diário de uma cnh tardia - pt 1.

essa deveria ser a parte 45, se eu tivesse publicado meus outros desabafos.
mas vejam, na idade que todo mundo está todo pimpão na autoescola, treinando a emancipação que chega a galope, eu estava trocando fraldas e perdendo noites de sono.
quem me levava pra cima e pra baixo era a verona do moisa ou o sistema de transporte público de maringá. eu nunca me importei em andar de ônibus, até gosto na verdade.
e eu fui adiando, adiando, adiando. até pegar um medo inconsciente de dirigir.

as fases anteriores a que eu estou agora, são meio surreais. você aprende tudo que já sabe por conta do bom senso e dos anos sentada no banco do carona. e também faz uns testes bizarros de risquinhos e memorização. mamão com açúcar. exceto a prova teórica né, que a gente caga de medo (eu cago). no dia anterior ao meu teste, eu fiquei até umas 2 da manhã fazendo simulado no site do detran achando que aquilo me salvaria de um fiasco. e salvou.

enfim, passando essa parte introdutória, vamos falar da amanda pegando no volante e passando marcha errado. mas antes, saibam que eu ligar um carro sem que ele exploda já é uma vitória.
eu sempre marco duas aulas por vez, daí posso passar uma hora e meia atrapalhando o trânsito da nossa pacata cidade. ando a 30 km/h, deixo o carro morrer no semáforo e quase invado a outra pista umas 67 vezes por aula. hoje foi um dia especialmente ruim. a instrutora havia elogiado que eu não deixava o carro morrer na subida, tinha pego fácil o jeitinho de fazê-lo tremer antes de soltar o freio, etc, etc. daí claro que foi tudo cagado e eu acho que só não causei um acidente porque ela escolheu as ruas mais calmas pra eu poder ser estabanada a vontade.
ela geralmente diz calmamente, quando o carro morre, que é normal, volta pra primeira marcha e sai devagar. só que no final ela nem dizia mais nada e já quase estava carimbando minha ficha com IMPOSSÍVEL ESSA JAPONESA TIREM ELA DAQUI. mas há um sadismo excepcional, porque ela me fez estacionar o carro. claro que eu falei umas 400 vezes "mais pra frente? mas não vai bater?, e disse sorrindo docemente que na próxima aula eu vou treinar baliza. cêjura?

ninguém tem noção da frustração que eu sentia enquanto desacorrentava minha bicicleta e fazia um ar sereno de é apenas a terceira aula.
capaz de eu ter enganado bem.

17 de set. de 2012

eu, o mais infiel.

isabel estava sentada na cama. esperando por mim. só de olhá-la tive uma ereção instantânea. eu continuava gostando dessa mulata. afinal de contas, que fidelidade posso exigir? o mais infiel dos mortais.
fechei a porta. tiramos a roupa devagar. então nos abraçamos e nos beijamos. bem apertados. meu coração acelerou e quase soltei uma lágrima. mas me contive. não posso chorar na frente desta desgraçada. penetrei bem devagar, acariciando-a, e ela já estava úmida e deliciosa. é como entrar no paraíso. mas também não disso isto. é melhor amá-la do meu jeito, em silêncio, sem que ela saiba.

(pedro juan gutiérrez)

16 de set. de 2012

migalhas.

estive relendo trilogia suja de havana e encontrando coisas maravilhosas que não havia encontrado antes. comecei a me lembrar da primeira vez que li gutierréz e do quanto o achei asqueroso e pretensioso. lembrei de mim mesma, falando mal do rei de havana pra amigas que adoraram as cenas de amor, descritas com odor de bunda suja, ralo e mofo. me lembrei da outra amiga, que chegou a trocar e-mails com o autor, por algum motivo, e me dizia "eu também não gostei de primeira, mas dá uma segunda chance. você vai gostar, eu tenho certeza". ela sempre tinha. eu dei uma segunda chance e agora me entrego à literatura e um amor por cuba que não tem explicação. já contei dos meus planos de ir a cuba?

dou pequenas risadas quando leio, nas orelhas, a comparação com a literatura beat, mas quem sou eu pra dizer alguma coisa. tenho esse medo imenso de ser esnobe e arrogante. mas eu sei que, em vários momentos, eu sou esnobe e arrogante. sempre que olho pra trás, eu vejo uns traços. e tenho um gosto amargo quando vejo que poderia fazer algumas coisas bem legais se me apegasse apenas à leveza. poderia estar com o blog motherock ainda, por exemplo. o melhor título que fui capaz pensar até hoje (só anos mais tarde fui descobrir que há uma banda espanhola com esse nome).

fico pensando como será quando me apegar apenas à leveza.
espero não ser tarde demais.

aos que merecem.

toda a empolgação de um bate-papo com ela, que é feminista, doutora em filosofia, colunista, escritora.
depois, toda a decepção porque, afinal, ela é feminista, doutora em filosofia, colunista e escritora.

pouca gente, de fato, estava ali pelo senhor mineiro. o outro escritor. com aquele olhar doce, atento, cabelos brancos e a sacolinha de mercado cheio de livros que ele mesmo vendia, a preços módicos. posso dizer que roubou todo o "brilho" da outra.
ele apenas se levantou e falou durante aproximadamente uma hora a respeito da sua vida, seu estado, seus livros. quase o aplaudi de pé. o sotaque mineiro, o humor afiado, a juventude destemida, o sorriso de orgulho quando falava sobre suas "novilhas".
por mim, mandava o resto embora e deixava ele ali, contando cada historinha da sua existência, até aquelas banais, do pão que esfarelou demais no café da manhã.
se é uma delícia de ouvir, imagina de ler?

não comprei os livros que ele oferecia (nem tinha levado carteira), não tirei fotos (estava muito mulambenta), não tietei (tenho vergonha), mas ele ganhou um espaço no meu blog. e um futuro espaço na minha estante.